São Paulo - A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente da República, Michel Temer, e a estratégia de Rodrigo Janot de fatiar as acusações em três partes, deve a partir de agora concentrar as atenções e o foco do Congresso. Com isso, a agenda das reformas, sobretudo a da Previdência, deve ficar para 2019, avaliam economistas e cientistas políticos.
Alguns analistas acreditam que Temer tem condições de conseguir os votos necessários na Câmara para barrar as denúncias de Janot O custo, porém, será uma paralisia do governo para tocar outras agendas que não a própria sobrevivência do peemedebista. "A cada pedido que Temer faz à base aliada para se segurar no cargo, há um enfraquecimento de seu capital político. Não acho que tenha mais reforma na mesa. O foco agora é ele se segurar no cargo", afirma o diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina da Oxford Economics, Marcos Casarin, baseado em Londres.
Um teste importante para ver se o governo ainda tem fôlego para andar com as reformas e como está o relacionamento do Planalto com a base aliada após as denúncias de Janot deve ser a votação do texto das mudanças nas regras trabalhistas, prevista para esta quarta-feira, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. "Precisa de um sinal mínimo de aprovação", avalia o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
Mesmo com o andamento do texto da reforma trabalhista, os economistas mostram menos otimismo para a Previdência. "A Previdência já estava adiada e adiada continua. Por enquanto, a reforma fica em suspenso, pelo menos até a votação da denúncia", disse a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara. Para o cientista político da Hold Assessoria Legislativa, André Pereira César, o mais provável é que o texto fique para 2019. "O governo Temer tem pouca margem de manobra", disse ele, destacando que após as denúncias de Janot, o custo para manter a base de apoio de Temer aumentou. Vale, da MB, também vê chances de a reforma ficar para 2019. "O governo está postergando a morte da Previdência e jogando para frente algo que talvez não dê para fazer este ano."
Mesmo uma reforma da Previdência mais esvaziada, que contemple apenas a idade mínima para a aposentadoria, vai ser difícil passar neste clima, avalia a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, com sede em Washington. "Não tem ambiente algum para discussão de qualquer tipo de reforma", disse ela, ressaltando que o foco agora dos parlamentares serão as denúncias contra o peemedebista Para a economista, há o risco de o governo Temer entrar em um estado de total paralisia, focado apenas em sua sobrevivência, deixando assim a agenda de reformas para o próximo presidente.
Para o cientista político e consultor associado da 4E, Humberto Dantas, é "extremamente improvável, quase uma utopia", a aprovação da reforma da Previdência até 2018. "A reforma já não é a que o governo queria anteriormente e agora passou a ser extremamente improvável, quase uma utopia", disse.
PIB
Um dia após Janot denunciar Temer, o Bank of America Merrill Lynch (BofA) revisou as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e alertou que o "ruído político cresceu, elevou risco para reformas e deve afetar retomada da economia". A instituição cortou a estimativa do PIB deste ano de 1% para 0,25% e de 2018 de 3% para 1,5%. "A recente turbulência política aumentou o risco de atrasos na aprovação da reforma da Previdência, um dos principais pilares em nosso cenário-base macroeconômico", afirmam os economistas do BofA, David Beker e Ana Madeira em um relatório nesta terça-feira, 27.
Quanto mais tempo demorar a tramitação da denúncia no Congresso, pior será, pois vai contribuir para manter o clima de incerteza elevado, observa a economista da XP Investimentos, Zeina Latif. Enquanto a situação não se resolve, a agência de classificação de risco Moody's, deve manter a perspectiva negativa para o rating soberano do Brasil. "Até vermos clareza sobre a direção das políticas e as perspectivas das reformas, que já foram muito comprometidas", disse a vice-presidente e principal analista para o País da agência, Samar Maziad. "Temos já uma perspectiva negativa sobre o rating do Brasil e isto captura as incertezas que começaram no recente processo de revelações realizadas pelas gravações do dirigente da JBS", disse ela.