Rio Grande do Norte - A professora Débora Seabra, primeira com síndrome de Down do país, fez uma carta em resposta a uma postagem preconceituosa da desembargadora Marília Castro Neves, do Rio de Janeiro, publicada no fim de semana.
Na postagem, a desembargadora questiona o que professores com síndrome de Down podem ensinar a alguém. Recentemente, a juíza publicou também notícias falsas sobre a vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro.
"Ouço que o Brasil é o primeiro em alguma coisa!!! Apuro os ouvidos e ouço a pérola: o Brasil é o primeiro país a ter uma professora portadora de síndrome de Down!!! Poxa, pensei, legal, são os programas de inclusão social... Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem???? Esperem um momento que eu fui ali me matar e já volto, tá?", escreveu a desembargadora em sua conta no Facebook.
A professora Débora Seabra publicou uma carta em resposta à desembargadora.
"Não quero bater boca com você! Só quero dizer que tenho síndrome de Down e sou professora auxiliar de crianças em uma escola de Natal (RN)", começa. Ela destaca o que considera o principal ensinado a seus alunos: educação, respeito, aceitação e solidariedade. Ela também enumera atividades que faz no trabalho, entre elas, contar histórias, ajudar nas atividades e acompanhar as crianças nas aulas de música, educação física e inglês.
Débora Araújo Seabra de Moura tem 36 anos e trabalha há 13 como professora auxiliar em uma escola particular de Natal. Ela é autora de um livro infantil chamado "Débora Conta Histórias" (Alfaguara Brasil, 2013). Por ser considerada exemplo no desenvolvimento de ações educativas no país ela recebeu, em 2015, o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação em Brasília.
Repúdio
A Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down publicou uma carta de repúdio à manifestação da desembargadora nesta segunda-feira. O texto relembra os avanços nos direitos das pessoas com deficiência nos últimos 70 anos e lamenta a conduta da juíza. "Não obstante essa árdua luta que visa mudar os paradigmas sociais e culturais mediante novos valores que reconhecem a dignidade humana, nos deparamos com comentários feitos por pessoa cujo exercício da nobre função de magistrada, desce ao mais baixo nível, tornando público em perfil do Facebook seu preconceito contra as pessoas com deficiência", afirma o texto.