Juiz Sérgio Moro  - Reprodução/ TV Cultura
Juiz Sérgio Moro Reprodução/ TV Cultura
Por ESTADÃO CONTEÚDO

São Paulo - O juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, defendeu a prisão após o julgamento em segunda instância em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura na noite desta segunda-feira. "Seria ótimo esperar o julgamento final, mas isso, aliado a nosso sistema judicial, que é extremamente generoso em recursos, você tem um processo sem fim", disse o magistrado. Ele afirmou ainda que os litígios chegam a durar mais de dez anos e alguns acabam por prescrever. "Isso na prática é impunidade."

A "generosidade de recursos", disse, é aproveitada pelos "poderosos", que têm condições financeiras de contratar os melhores advogados. "Se alguém cometeu um crime, a regra é que tem de ser punido."

Ainda na primeira parte de perguntas do programa, o juiz defendeu a redução do alcance do foro privilegiado. Alguns ministros do Supremo Tribunal, ressaltou, já declararam que o foro privilegiado não funciona bem. "O STF não é preparado para julgar esses benefícios."

"Posso não ter acertado sempre, mas sempre agi com a pretensão de fazer a coisa certa", disse Moro, ao falar de suas decisões para os condenados da Lava Jato. Com o tempo, declarou, as pessoas vão entender as suas decisões. "A Operação Lava Jato revela que havia um quadro de corrupção sistêmica."

Moro disse, ainda, que "a fama é passageira" e que o sucesso da Operação Lava Jato se deve a outros nomes, entre eles o juiz Marcelo Bretas, responsável pela operação no Rio. "A Operação Lava Jato não é uma operação de uma pessoa só."

Política

"Nós, brasileiros, não podemos chegar às eleições cabisbaixos". O magistrado afirmou, ao falar da corrida presidencial, que não se pode generalizar quando se fala de políticos, mas que há "bons candidatos". Ao mesmo tempo, segundo ele, "há outros não tão bons" e ainda existem outros ainda que "merecem juízo maior de censura".

Ao comentar as manifestações de 2015 e 2016, Moro disse que as pessoas que saíram às ruas "fizeram uma grande diferença". O juiz ressaltou que havia várias bandeiras, incluindo a insatisfação com a economia e com o governo anterior, mas ponderou que houve uma coisa em comum, que foi a insatisfação com a corrupção.

Para o juiz, há outras maneiras de as pessoas defenderem a causa, escolhendo bem seu candidato nas eleições. "Não adianta um candidato nas eleições chegar e dizer: 'Ah, eu sou contra a corrupção'. Não, ele tem que dizer o que ele pensa para combater a corrupção."

"Os brasileiros querem um governo de leis, não um governo de interesses especiais", afirmou. "A impunidade não é a única causa da corrupção", disse o juiz Moro. "Mas precisamos reduzir essa impunidade para reduzir os níveis de corrupção", completou.

O juiz disse que "é necessário vontade política para construção de instituições que diminuam a corrupção". "Não posso entender o brasileiro como alguém corrupto, em especial em relação a outros países."

Participaram da bancada de entrevistados de Moro os jornalistas João Caminoto, diretor de jornalismo do Grupo Estado; Sérgio Dávila, editor executivo do jornal Folha de S Paulo; Daniela Pinheiro, diretora de redação da revista Época; Ricardo Setti, jornalista e escritor; e Fernando Mitre, diretor de jornalismo da Rede Bandeirantes. O programa também contou com a participação do cartunista Paulo Caruso.

A edição desta segunda marcou a despedida do apresentador Augusto Nunes, que esteve à frente do Roda Viva nos últimos cinco anos.

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