Rio - O massacre de Suzano trouxe memórias dolorosas aos sobreviventes de atentados recentes em escolas do Brasil. Isadora de Morais, 15 anos, desembarcava em São Paulo quando recebeu a notícia da tragédia da Grande São Paulo. “Eu fiquei em estado de choque primeiro e em seguida comecei a lembrar de tudo que aconteceu comigo”, declara a adolescente.
No dia 20 de outubro de 2017, um aluno entrou no Colégio Goyazes, em Goiânia, capital de Goiás, e atirou aleatoriamente contra os colegas de escola. A menina e outros quatro estudantes foram atingidos pelos disparos. Dois morreram e Isadora ficou paraplégica por causa do tiro que a atingiu. “Eu fico me perguntando ‘de novo?’ Até quando isso vai continuar acontecendo? Quando vão fazer alguma coisa para mudar isso?”, indaga a jovem. Nos últimos 16 anos, foram registrados pelo menos nove ataques no Brasil.
Segundo Isadora, ela lembra até hoje como as coisas aconteceram. “Eu choro muito, tenho muito pesadelo e vejo o rosto do atirador neles. Eu não consigo dormir no meu quarto”, afirma. “A gente se acostuma com a dor. Nunca vou esquecer o que eu passei”, completa a estudante, que mudou de colégio após a tragédia.
A adolescente diz que sua maior dificuldade foi aceitar que estava de cadeira de rodas. “Foi muito difícil, mas hoje vejo de outra forma. Eu enxergo a vida muito além da cadeira de rodas. Eu posso ser quem eu quiser ser e ter a profissão que quiser, claro, que tudo dentro das minhas limitações”, conta Isadora, que sonha em ser publicitária.
Quase um ano após o atentado que feriu Isadora, um novo ataque em escola foi registrado em Medianeira, no interior do Paraná. Um adolescente de 15 anos entrou armado e atirou contra colegas de classe no Colégio Estadual João Manoel Mondrone em setembro do ano passado. Dois alunos ficaram feridos e dois foram apreendidos. Em depoimento, um dos autores disse à polícia que sofria bullying e que planejou o ataque durante dois meses.
Bruno Facundo, de 15 anos, foi um dos feridos e segundo o pai Eder Facundo, o filho recebeu com muita emoção a notícia sobre a tragédia de Suzano. “Foi um mix de compaixão pelo que as pessoas estão sofrendo e empatia porque lembrar que passou por isso, como foi passar isso”, diz.
O adolescente foi ferido na coluna, o que prejudicou parte dos movimentos do lado esquerdo. Ele continua se recuperando da lesão. “Meu filho não reviveu uma situação, ele não tem trauma. Bruno recebeu alta de todos os profissionais”, afirma Eder.
De acordo com o pai, Bruno não nutre nenhum sentimento contra os autores do ataque. “Ele perdoou os meninos. Ele foi o primeiro a se aproximar de um deles, que era muito quieto. Ele conseguiu quebrar esse silêncio e acho que o fato deles terem machucado o Bruno pesou no coração deles”, acredita.
Segundo Eder, eles se encontraram com os meninos e a família deles em uma sessão da Justiça Restaurativa. “Quando nos chamaram, a gente abriu o coração e foi lá ouvir”, comenta. “O que eu posso falar desse encontro é que minha esposa abraçou calmamente um dos meninos que atirou no Bruno e se emocionou muito. Ela queria que eles se sentissem perdoados, para reverter essa sequela do mal e depois lidar com as consequências do bullying que ele sofria."
Sobre a solução para a segurança nas escolas, Eder descarta o armamento. “Eu acho que as melhores ideias para solucionar o problema não vieram à tona, é preciso debruçar sobre o assunto de fato e ouvir os muitos especialistas, que dedicam seus estudos ao assunto”, conclui.