Segundo ele, cada dia 25 em Brumadinho é como se fosse o dia da tragédia. Moradores, famílias das vítimas e empregados ainda estão presos naquele momento e tudo volta à mente. O sobrevivente sente a dor de ainda ter corpos de 22 pessoas encobertos pelos rejeitos e pela lama. “É difícil porque cada dia é uma coisa, é uma pessoa que aparece ou são resgatados restos mortais de algumas pessoas. A gente fica na expectativa de achar as pessoas desaparecidas. Alguns amigos ainda estão lá. A gente fica sempre naquela angústia”, comentou.
O operador ambiental já passou por afastamentos do trabalho em consequência dos traumas da tragédia e por tentativas de retomar as suas funções. Chegou a trabalhar em outras barragens, mas não teve condições de desempenhar o serviço. Atualmente, está em licença médica. “Eu afastei no dia 22 de maio e estou pelo INSS, devo ter uma outra perícia no mês que vem e se der tudo certo volto a trabalhar de novo. Eu sou funcionário dela [Vale] ainda, né?”, disse.
Mesmo com acompanhamento psicológico que tem feito, precisando de medicamentos para dormir, as marcas do sofrimento que passou naquele momento estão presentes e, depois de seis meses, ainda provocam sobressaltos. Mas no dia a dia procura atividades para aliviar os pensamentos. O encontro com parentes e amigos tem sido uma forma de sair da rotina. Esta semana está visitando a família do irmão que tem Alzheimer em São Paulo. Lá teve a surpresa dos parentes que comemoraram os seus 54 anos, na última segunda-feira.
“O conceito familiar em si, parece que as coisas simples da vida ganham um significado muito mais especial que antes. Um dia você acorda de manhã e vai dar um abraço no filho, aquilo ali para gente é uma coisa diferente”, completou com voz embargada. “Desculpe, mas às vezes, me emociono um pouco”.
Hoje, se ainda tem um lado trágico na vida de Sebastião há também perspectivas para o futuro. A formatura em engenharia ambiental e sanitarista foi em 2018 e a colação de grau em maio passado. Está fazendo uma pós-graduação e até o fim do ano vai lançar o livro, que não ficará apenas na história do rompimento da barragem. Vai contar a sua história de vida.
Sebastião tem esperança de que, agora formado, possa ser contratado como engenheiro ambiental da Vale.
Sebastião ainda espera alguma reparação da Vale. Ele contou que os parentes das vítimas do rompimento já receberam indenizações, mas os sobreviventes ainda aguardam uma posição da empresa. Enquanto isso tem uma ação no Ministério Público do Trabalho e vai fazer uma audiência no dia 18 de agosto para tratar dessa questão. “A gente podia ter morrido, mas graças a Deus a gente ainda salvou outras vidas que estavam perto da gente. Para quem morreu, [a família] recebeu indenização, mas para a gente que sobreviveu ainda está sendo olhado”, observou.
A Vale informou que fez o acordo definitivo de indenização, assinado no último dia 15 de julho, com o Ministério Público do Trabalho de Minas Gerais. O acordo prevê estabilidade aos trabalhadores próprios e terceirizados, lotados na Mina de Córrego do Feijão no dia do rompimento, e aos sobreviventes que estavam trabalhando no momento do rompimento. A estabilidade é válida por três anos, contados a partir de 25 de janeiro de 2019, podendo ser convertido em pecúnia. Além disso, a companhia afirmou que depositará em juízo, no dia 6 de agosto de 2019, o valor de R$ 400 milhões a título de dano moral coletivo.