A estimativa foi feita por pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que trabalharam com uma tecnologia conhecida como modelagem inversa, que parte dos pontos de chegada das manchas nas praias e faz o caminho para trás, estimando o ponto de origem desse óleo.
Ao cruzar todas essas trajetórias, eles chegaram a uma região onde provavelmente o vazamento ocorreu. A análise permite estimar também o dia em que houve o acidente: por volta de 14 de junho.
O engenheiro Luiz Landau, que coordena o Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia da Coppe, explica que trata-se de uma estimativa, mas que busca reproduzir do modo mais fiel possível as condições do evento. "Não sabemos, por exemplo, exatamente a que horas as manchas chegaram à costa, mas mesmo dentro dessas limitações, testamos vários cenários e chegamos a uma região provável da origem desse óleo", disse Landau ao jornal O Estado de S. Paulo.
O trabalho não indica exatamente um ponto específico do vazamento, mas uma região provável - um retângulo cujo lado maior tem cerca de 100 km de comprimento. "A gente considerou como se as pequenas manchas estivessem se movendo para trás até se juntarem nessa região no meio do Oceano Atlântico. Com mais investigação, podemos chegar a um raio menor, mas para dar uma resposta rápida nesse momento de crise, é o que conseguimos mostrar", complementou o oceanógrafo Luiz Paulo Assad, colaborador do laboratório e professor do Departamento de Meteorologia da UFRJ.
"Depois de um tempo, o óleo sofre com intemperismo e afunda, movendo-se na sub-superfície, o que o deixa invisível para sensores remotos de satélites. Por um momento, que não sabemos ainda quanto, ele de fato ficou visível, mas em uma região que não há monitoramento frequente por satélite. Teria de dar a sorte de bem na hora do acidente estar passando um satélite por lá, mas é quase como achar uma agulha no palheiro. Os satélites que olham o mar são mais voltados para a região costeira", diz.
"O Brasil possui expertise para ter um sistema de identificação e monitoramento do mar em toda a costa de modo proativo e não reativo como está ocorrendo agora", diz.
Os pesquisadores acreditam que o mais provável é que tenha ocorrido um grande vazamento neste local, talvez durante uma malsucedida operação conhecida como ship-to-ship, em que o óleo é transferido de uma embarcação a outra em alto-mar, o que traz altos riscos de acidente.
Eles dizem não ver relação das manchas com os barris da Shell encontrados em praias do Sergipe e de Natal. "Nosso entendimento é que não há relação entre a tragédia que está acontecendo e os barris. Não há a menor relação", afirmou Assad.
O próximo passo, agora, é tentar fazer o caminho oposto e tentar estimar para onde a mancha pode se encaminhar.