O cruzeiro com 1.338 passageiros de ao menos 30 nacionalidades e muitos idosos começou sua viagem no dia 9 de março no Rio de Janeiro e seguiu para Santos (SP), Búzios (RJ) e Maceió (AL). Na Europa, passaria por Funchal e Lisboa, em Portugal; Tenerife, Barcelona e Cadiz, na Espanha; Marselha, na França; e o destino final no dia 26 seria Gênova, na Itália, país com mais de 6 mil mortes confirmadas pelo coronavírus.
A MSC, segundo relatam passageiros, prosseguiu viagem de Maceió, em Alagoas, para a Portugal no dia 13 de março, mesmo diante da pandemia que afeta em cheio a Europa. No porto local foi anunciado que a ida para Gênova seria cancelada, mas os outros destinos mantidos.
Os viajantes questionaram a continuação do passeio, mas foram informados que não havia problemas e que "estava tudo sob controle". Entretanto, apreensivos, alguns brasileiros desembarcaram em Maceió, temendo seguir com o passeio.
Uma das que não seguiu para a Europa foi a nutricionista Maria Cristina Guimarães, 68 anos. Ela retornou de Maceió para o Rio de Janeiro diante da incerteza. "Ficamos com medo de não conseguir desembarcar na Europa", contou.
Quem desembarcou em Alagoas teve que assinar um documento isentando a MSC de responsabilidade. De acordo com Maria Cristina, funcionários também desistiram de seguir no navio e rescindiram seus contratos temporários de trabalho.
Três dias depois, no dia 16, a empresa cancelou todas as suas viagens até o dia 30 de abril. A tripulação do Fantasia foi informada quando atravessava o Oceano Atlântico que o cruzeiro seria encerrado em Lisboa, onde chegou às 10h de domingo.
Estrangeiros estão proibidos de desembarcar de cruzeiros em Portugal, que está em estado de alerta. A incerteza preocupa os passageiros, que dizem que a MSC só deixará descer quem tiver com passagem comprada.
"A MSC está nos obrigando a desembarcar do navio até o dia 26. Só que praticamente todos passageiros tiveram seus voos cancelados. Portugal não aceita ninguém descer do navio e essa é a nossa situação", disse o aposentado Ricardo Holtz, de 61 anos.
"No nosso entendimento, a MSC teria que junto às empresas aéreas conseguir o retorno ou fretar voos para levar os brasileiros para Rio e São Paulo", concluiu ele, que é de Santa Catarina e embarcou no Rio.
Segundo a advogada Alessandra Carlos, de 42 anos, quem fechou a viagem diretamente com a MSC tem passagem garantida e alguns conseguiram comprar as poucas viagens disponíveis nas empresas aéreas, que estão com preços muito altos.
"Queremos um voo fretado sem escalas para o Brasil ou um voo humanizado de repatriação", disse ela, que é de Franca, interior de São Paulo, e embarcou em Santos. O Itamaraty e o consulado do Brasil em Portugal foram comunicados da situação, segundo Alessandra.
A advogada conta que ela e outros passageiros tentaram cancelar antes do embarque por conta da pandemia, mas foram informados que teriam que pagar 100% de multa. Em Maceió, quando foi dada a opção de descer, muitos não o fizeram porque o valor das passagens estava alto e já tinham bilhete de volta comprado.
'Mídia está exagerando', disse capitão
Antes, Alessandra conta que a situação era minimizada pelo capitão do Fantasia, que dizia que a viagem iria até Gênova. "Achávamos um absurdo, mas ele dizia que não havia plano de alterar os destinos. Era dia 9 e ainda não estava esse pânico total aqui e ele dizia que a 'mídia brasileira estava exagerando', que ele era italiano e sabia exatamente o que estava acontecendo", relatou. Na época, a Itália já tinha ao menos 300 mortos.
A incerteza preocupa diante do que pode acontecer após o limite dado de desembarque pela MSC. "Eu estou aguardando uma posição da empresa para nos embarcar de volta para o nosso país. Tem casais idosos que nem saem da cabine. É uma situação de estresse, ninguém vem para um cruzeiro para passar por um situação dessa", lamentou.
Os brasileiros e cidadãos de outras nacionalidades deixarão o porto escoltados até o Aeroporto Humberto Delgado, desde que estejam com passagens compradas ou sejam repatriados pelos seus país.
Procurada, o Itamaraty não entrou em detalhes sobre o caso e disse que tem monitorado caos de passageiros brasileiros ao redor do mundo e atuado, caso necessário, para garantir o retorno dos seus cidadãos.
"Esclarecemos que, nesses casos, a responsabilidade pelo retorno dos nacionais cabe à empresa organizadora do cruzeiro. O Itamaraty acompanha os casos individuais que foram comunicados às Embaixadas, Consulados e Grupos de Crise para atuar, caso necessário, no sentido de garantir o retorno dos brasileiros".
Este é o porto final do cruzeiro do MSC Fantasia. Tendo em vista a decisão da MSC Cruzeiros de interromper, temporariamente, todas as suas operações até 30 de abril, o MSC Fantasia deixará agora de operar.
A MSC Cruzeiros está trabalhando na organização dos voos para trazer os passageiros de volta ao Brasil, com previsão para os próximos dias.
Os passageiros que estão a bordo receberão uma carta de crédito no valor do pacote do cruzeiro, que poderá ser resgatado em um cruzeiro futuro, a qualquer momento até o final de 2021, e um crédito a bordo de 200 Euros/Dólares, por cabine, reembolsável, a ser utilizado no futuro cruzeiro.
Quaisquer pacotes pré-pagos (bebidas, excursões, etc.), proporcionais aos dias não usufruídos do cruzeiro, também serão automaticamente reembolsados.
A MSC Cruzeiros deseja agradecer às autoridades portuguesas por sua cooperação. Queremos também pedir desculpas aos nossos passageiros pela inconveniência dessa situação e agradecer a eles por sua confiança e compreensão contínuas."