O presidente Bolsonaro gerou mais um clima de crise política após campanha publicitária que vai contra recomendação de isolamento social, feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Sob o slogan "O Brasil não pode parar", a iniciativa que estimula a reabertura de comércios e escolas provocou fortes reações. Prefeitos e parlamentares reagiram e se preparam para ir à Justiça contra o Planalto.
A campanha faz parte da estratégia do governo para divulgar ações consideradas necessárias pelo presidente. A avaliação no meio político é que Bolsonaro desqualifica a todo tempo o regime de quarentena e só dá mais ênfase à questão econômica. O chefe do Executivo usou suas redes sociais para defender a iniciativa, além de compartilhar vídeo de carreata em Santa Catarina contra o isolamento social.
Repercussão nacional
Em resposta, a Frente Nacional dos Prefeitos enviou ao presidente uma carta, na qual questiona se a União assumirá também as responsabilidades que cabem aos governos locais, como atendimento direto à população. Um grupo de governadores do Nordeste também protestou. O governador do Rio, Wilson Witzel, considerou a estratégia de Bolsonaro "desastrosa". Disse que o presidente cometeu improbidade administrativa ao atacar recomendações da OMS e do próprio Ministério da Saúde. Witzel afirma, contudo, que o momento não é adequado a um impeachment.
A reação mais forte partiu de João Doria, de São paulo. Ele chamou Bolsonaro de irresponsável. "Enquanto alguns preferem desprezar vidas, não é racional fazer política com saúde, com a vida das pessoas, especialmente, as mais pobres e vulneráveis. O mundo inteiro está errado e o único certo é o presidente Bolsonaro?", questionou.
O presidente retrucou afirmando que alguns querem "fazer número político" sobre as contaminações e mortes por Covid-19. Ele chegou duvidar dos dados da Secretaria de Saúde de SP e afirmou: "Não estou acreditando nesses números".
Chrystina Barros, pesquisadora em Saúde do grupo técnico de Enfrentamento a Covid-19 da UFRJ, lembrou a O DIA que outros países, como Inglaterra e Itália, tentaram outra estratégia, mas acabaram voltando ao isolamento.
O prefeito de Milão, Giuseppe Sala, pediu desculpas à população por ter apoiado a campanha "Milão não para". No momento da campanha a Itália tinha 14 mortes pela Covid-19, atualmente o pais já soma mais de nove mil vítimas da doença.
*Estagiária sob supervisão de Waleska Borges