
O ministro evitou se comprometer ao modelo de isolamento horizontal, defendido pelas entidades da área da saúde, ou vertical, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro nesta semana. "Não existe quarentena vertical, não existe quarentena horizontal, não existe nada disso. Existe a necessidade de arbitrar num determinado tempo qual grau de retenção que uma sociedade precisa fazer", afirmou, referindo-se ao combate à pandemia.
Mandetta fez um apelo para que governadores e prefeitos não tomem atitudes intempestivas e defendeu que precisa haver coordenação e ação nacional. "Agora é preciso coordenar a ação nacional. Precisa sentar e organizar. Aqueles que pensarem localmente e não tiverem cabeça e visão para ver o mundo, terão dificuldades", disse.
O ministro afirmou ainda que a partir da próxima semana o sistema de saúde contará com testes rápidos e com o uso da telemedicina, para que o atendimento seja feito na casa do paciente. Mandetta informou que ficará a frente da pasta, que coordena as medidas para combate do novo coronavírus no País até que Bolsonaro permita. Ele já havia dito isso depois de o presidente comentar que a quarentena precisava ser revista.
No plano de ação da quarentena, a ser executado nos próximos três meses, há a previsão da contratação de trabalhadores informais serem contratados como promotores de saúde durante a resposta à covid-19. A ideia é que eles orientem as pessoas na rua, identifiquem idosos que estão fora do isolamento para enviá-los para casa, além de atuarem na limpeza de superfícies.
Outras medidas incluem a proibição de qualquer evento de aglomeração (shows, cultos, futebol, cinema e teatros). Nesta sexta-feira, durante entrevista ao Programa Brasil Urgente, o presidente Jair Bolsonaro defendeu a realização de jogos de futebol em estádios com público reduzido para 10% da capacidade. Há, ainda, previsão de redução em 50% da capacidade instalada em bares e restaurantes.
Os técnicos responsáveis pelo documento, por outro lado, consideram que devem sofrer represálias por endurecer as medidas em meio ao discurso do presidente pela volta à normalidade no Brasil, a fim de retomar atividades econômicas. Uma das possibilidades ventiladas é a eventual demissão da equipe de Vigilância em Saúde (SVS), mais resistente à postura de Bolsonaro.
Neste sábado, enquanto Bolsonaro se reuniu com ministros no Palácio da Alvorada, entre eles Luiz Henrique Mandetta, parte da equipe da saúde fez uma reunião paralela na sede do ministério para discutir o assunto.
Ao Estado, o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, afirmou que a entidade não apoia "qualquer recuo no sentido de afrouxamento de isolamento e sim uma transição na direção de sua ampliação, na medida da necessidade".
"Esperamos que a equipe técnica do Ministerio possa seguir se trabalho serio, técnico e cientificamente orientado, sem que qualquer outra orientação se sobreponha ao interesse da proteção da saúde e da vida das pessoas", afirmou Beltrame.
Divergências
Para alguns secretários, a reunião foi vista com alívio, por Mandetta não endossar expressamente as falas de Bolsonaro. Outros, entretanto, disseram que o ministro deveria ter sido mais firme em apoiar medidas técnicas e se opor a Bolsonaro.
O temor é que, se ele se afastar do Ministério da Saúde agora, poderia ser substituído por Antonio Barra Torres, presidente da Anvisa, que acompanhou o presidente da República em manifestação feita no dia 15 de março, na qual ele teve contato com centenas de pessoas.