Após denúncia de tentar interferir no comando da Polícia Federal e idas a eventos antidemocráticos em meio à pandemia (o que para juristas é crime de responsabilidade), além da divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, ontem foi a vez Jair Bolsonaro "se convidar" para ir à Procuradoria-Geral da República (PGR), onde o procurador-geral Augusto Aras deu posse ao procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena. O presidente já participava do evento, por videoconferência.
Quebrando o protocolo, Bolsonaro apareceu na PGR, órgão com a responsabilidade de apurar e encaminhar as denúncias feitas a ele ao Supremo Tribunal Federal (STF). "Se me permite a ousadia, se me convidar eu vou agora aí apertar a mão do nosso novo integrante desse colegiado maravilhoso da PGR", disse Bolsonaro. Aras respondeu que o presidente estava convidado. "Estaremos esperando Vossa Excelência com a alegria de sempre", afirmou. O presidente foi ao encontro, onde ficou cerca de 10 minutos.
Para o advogado Sérgio Batalha, foi uma tentativa de atrair o procurador, indicado por Bolsonaro. "No momento em que está sendo decidida a apresentação ou não de denúncia pela PGR, me parece imprópria essa 'visita institucional'", avalia Batalha.
Manoel Peixinho, especialista em Administração Pública e professor da PUC-RJ, acredita Bolsonaro teme o desdobramento das investigações que correm na PGR. "Ele também teme o inquérito sobre as fake news, que pode alcançar Carlos Bolsonaro e outros aliados", explicou.
Especialista não vê abuso de autoridade
Poucos dias depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) tornar público o vídeo da reunião ministerial do governo Bolsonaro, o presidente da República publicou no Twitter um trecho da Lei do Abuso de Autoridade que prevê prisão para divulgação indevida de gravações. Mas para o advogado Manoel Peixinho, a vedação citada por Bolsonaro no microblog não se aplica ao vídeo da reunião ministerial.