Pesquisadora da Fiocruz lamenta atraso na produção de vacinas: 'Incompetência diplomática'
Margareth Dalcomo desabafou sobre dificuldades dos laboratórios causadas pelo governo
Recentemente, cientista Margareth Dalcolmo também recebeu prêmio de personalidade do ano do prefeito eleito Eduardo PaesDaniel Castelo Branco
Por O Dia
Rio - Uma das principais vozes científicas durante a pandemia de covid-19, a médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcomo lamentou o atraso na produção das vacinas no Brasil e culpou a "incompetência diplomática" do governo. O desabafo aconteceu no discurso após receber o Prêmio São Sebastião, promovido pela Arquidiocese do Rio.
Visivelmente emocionada, Margareth Dalcomo considerou injustificável o Brasil estar em dificuldades para disponibilizar vacina para a população.
"O que é que pode justificar, nesse momento, que o Brasil não tenha capacidade competitiva de servir à nossa obrigação para a qual nós fomos formados. O que é que pode justificar que o Brasil não tenha as vacinas disponíveis para a sua população? Não há nada que justifique a não ser a absoluta incompetência diplomática do Brasil, que não permite que cada um dos senhores, suas famílias e aqueles que vocês amam estejam amanhã ou nos próximos meses, de acordo com o cronograma apresentado, recebendo a única solução que há para a covid-19", desabafou.
Essa situação acontece porque o governo brasileiro está com dificuldade para obter as duas milhões de doses do imunizante da Oxford/AstraZeneca, produzidas pelo governo da Índia em parceria com o instituto indiano Serum. Além disso, tanto o Instituto Butantan como a Fiocruz não conseguem, junto a laboratórios chineses, a liberação da exportação do IFA, ingrediente farmacêutico que funciona como "matéria-prima" para a produção de vacinas.
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Com esses dois problemas, a produção das vacinas no país é afetada e já atrasa a entrega por parte dos dois laboratórios federais, assim como todo o cronograma de imunização. Por enquanto, o Brasil tem um estoque inferior à expectativa, contando com seis milhões de doses da Coronavac, o que pode interromper a campanha se nada for feito.
Mais cedo, em Brasília, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, negou aos membros da comissão externa criada pela Câmara dos Deputados para o enfrentamento à covid-19 que divergências políticas com a China causaram o atraso na entrega de insumos para produção de vacinas no Butantan e na Fiocruz.
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"Temos relação madura, construtiva, muito correta, tranquila com a China. Não é um assunto político. É assunto de demanda por um produto", disse Araújo.