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Salvador encarou a pandemia inicialmente com muito rigor. Desde 18 de março de 2020, quando foi decretado o primeiro plano de restrições, até o início de julho, as pessoas obedeceram o isolamento social e o fechamento rigoroso do comércio, com restrições de horário inclusive para mercados. Vendo as notícias na TV, ficava preocupado com familiares no Rio, mas me sentia em completa segurança na capital baiana.
A Bahia tinha uma das menores taxas de infecção e de mortes registradas no país. Mas, aos poucos, as medidas foram sendo afrouxadas. Quando a cidade foi abaixo dos 60% na ocupação das UTIs, a vida praticamente voltou ao normal, o que foi um erro grosseiro, pois ainda não havia um plano de vacinação. Durante o período eleitoral, os políticos cederam às pressões de comerciantes. De outubro para cá, bares lotados, praias apinhadas de banhistas e com as pessoas desrespeitando as regras básicas. Máscaras eram raras de serem vistas durante um passeio no calçadão da Barra, um dos pontos mais movimentados da cidade.
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Nos bairros mais afastados da região central, os bailes de paredão, chamados assim por causa da muralha formada pelas gigantescas caixas de som, rolavam soltos no meio da rua. Não raramente a festa acabava em conflito após a chegada da polícia. O que acontece em Salvador é o mesmo que ocorre em praticamente todo o país. Estamos pagando pelas festas, aglomerações e desrespeito absoluto à vida que ocorreram entre o fim de 2020 e o início de 2021. A situação é incerta e dramática.
*Depoimento de Flávio Almeida, jornalista, morador de Salvador