O pai de santo André Vicente de Souza disse que policiais entraram no terreiro de Candomblé e bateram no caseiroReprodução

Por O Dia
Representantes de religiões de matriz africana de cidades em Goiás denunciam intolerância religiosa durante as buscas pelo serial killer Lázaro Barbosa, acusado de assassinar quatro pessoas de uma mesma família, em Ceilândia, na região do Distrito Federal. Os líderes afirmam que os policiais agem com violência, apontam armas e vasculham todas as áreas dos terreiros, até mesmo as restritas.
Em um vídeo que circula na internet, o pai de santo André Vicente de Souza disse que policiais entraram no  terreiro de Candomblé e bateram no caseiro, além de quebrar portas e tirar fotos de objetos religiosos.
Publicidade
"Eles desacataram com palavras que não gostei. Eu tive dizer que tinha 80 anos e pedi se podiam me respeitar", disse André. 
De acordo com o Metrópoles, André registrou uma ocorrência na 1ª Delegacia Distrital de Polícia de Águas Lindas de Goiás, nesta sexta-feira. O religioso afirmou que policiais “tiveram comportamento abusivo, agredindo fisicamente o caseiro, quebrando objetos de cunho religioso e perguntando pelo foragido Lázaro”.
Publicidade
"Estamos sofrendo, neste momento estou falando pela dor de muitas casas, sofrendo invasões constantes de polícias de vários comandos, não dá nem para saber qual, violando nossos sagrados, colocando rifles na nossa cabeça sob acusação de que estamos acoitando o Lázaro", contou o líder afro tradicional de candomblé Tata Ngunzetala, que lidera mais de 30 casas na região

Apenas neste sábado, 19, a polícia invadiu o terreiro liderado por Tata Ngunzetala duas vezes. "Perguntam constantemente qual última vez que vimos Lázaro e nós respondendo o tempo todo que não temos nenhuma vinculação, nem nossas casas, nem nossas tradições com crimes e qualquer situação civil que a polícia e a Justiça têm que dar conta, e não colocar nossas casas e lideranças sob suspeitas", disse.

Ele conta que há três dias seguidos a situação se repete, mas que nesta tarde foi mais grave. "Tive que abrir todas as portas dos espaços sagrados, inclusive aquelas restritas às pessoas iniciadas sob mira de fuzil. Tive meu celular e computadores vasculhados sem mandado judicial, sem nenhuma acusação formal, nada que me vincule e vincule nossas casas de tradição ao que eles estão buscando", contou.
Mutaledi Sanchez fez um vídeo divulgando a invasão dos policiais no terreiro onde frequenta. "O que a gente precisa entender é que é intolerância religiosa e racismo, porque a gente não vê a polícia fazendo esse tipo de ação dentro da igreja. Não foi comprovado que Lázaro pertence a nenhuma religião de matriz africana. A gente precisa divulgar essas violações", disse ela. 
Publicidade
Neste sábado, 13 lideranças e organizações religiosas fizeram um manifesto em repúdio aos “violentos ataques racistas praticados contra as casas de matrizes africanas na região de Águas Lindas, Girassol, Cocalzinho e Edilândia de Goiás, na tentativa de nos vincular ao foragido conhecido como Lázaro e aos crimes a ele atribuído”.
O manifesto diz diz que “são graves os relatos de depredação dos nossos territórios mediante intimidação e agressões físicas”.
Publicidade
“As imagens dos alegados ‘rituais satânicos’ que estão sendo divulgadas pela mídia foram produzidas pela própria polícia durante uma invasão e quebra das portas de umas de nossas casas. O que de fato estas imagens retratam são elementos sagrados de nossas divindades, especificamente ligadas ao culto ao Orixá Exu e aos exus guardiães de Umbanda. Estes apetrechos nunca pertenceram ao procurado e nem tampouco guardam relação com o satanismo, referência que não faz parte da cosmogonia e mitologia afro", diz um trecho do manifesto. 
Uma força-tarefa com cerca de 200 policiais foi montada e tem usado o distrito de Girassol, área rural de Cocalzinho, no Goiás, como base - a área é próxima de onde ele teria sido visto pela última vez. Lázaro está foragido há 11 dias.
Publicidade
*Com informações do Estadão Conteúdo