O setor elétrico deve adotar medidas ainda mais extremas para evitar cortes de energia e possíveis desligamentos de usinasMarcelo Camargo/Agência Brasil

Por ESTADÃO CONTEÚDO
Rio - O reduzido nível de armazenamento de água já verificado nos principais reservatórios de hidrelétricas da Região Sudeste do país tende a se agravar até o fim deste ano, o que deve levar o setor elétrico a adotar medidas ainda mais extremas para evitar cortes de energia e possíveis desligamentos de usinas.
O Estadão teve acesso a projeções técnicas feitas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que é o órgão que tem a missão de monitorar e definir como se dá a geração de energia no país. As estimativas fechadas em junho apontam que, mesmo após a determinação para que as usinas liberem o mínimo possível de água, a maior parte dos reservatórios chegará ao fim de novembro - quando acaba o período seco - com menos de 10% do volume útil de água que podem armazenar. No limite, a depender das condições técnicas de cada usina, suas turbinas vão precisar ser desligadas, por causa do pouco volume de água disponível para passar pelas máquinas, sob o risco de comprometê-las.
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Segundo o governo, esse é o período mais seco dos últimos 91 anos. No fim do mês passado, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, fez pronunciamento em cadeia de rádio e TV pedindo à população o uso "consciente e responsável" de água e energia. O governo, porém, nega o risco de um racionamento como o de 2001.
O cenário crítico é encontrado em praticamente todas as barragens localizadas na Bacia do Rio Paraná, que abastece as Regiões Sudeste e Centro-Oeste do país. São dezenas de usinas espalhadas pela calha principal do Rio Paraná e pelos rios que compõem a sua bacia, como Paranaíba, Grande, Tietê e Paranapanema. A Bacia do Paraná responde hoje por mais da metade da capacidade nacional de geração de energia do país.
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O detalhamento das condições de armazenamento de alguns reservatórios ajuda a compreender a gravidade do quadro no abastecimento. O reservatório da hidrelétrica de Furnas, por exemplo, que é uma barragem de acumulação e de regularização de água, localizada nas proximidades da cabeceira do Rio Grande, entre Minas Gerais e São Paulo, está hoje com 28% de sua capacidade de armazenamento, mas deve ficar com menos de 10% até outubro. Na calha desse mesmo rio, a barragem da usina de Marimbondo já atingiu, neste mês, o nível de apenas 10% de sua capacidade e pode chegar a 5% nos próximos meses.
Mais dramática são as projeções feitas para as barragens do Rio Paranaíba, um dos grandes rios que compõem a Bacia do Paraná. O reservatório da hidrelétrica Itumbiara está hoje com apenas 9% de seu volume útil e, até outubro, pelas projeções do ONS, esse volume certamente será inferior a 5% do total.
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Baixa histórica
De maneira geral, o armazenamento somado dos reservatórios da Bacia do Rio Paraná fechou o mês de maio com menos de 29% de sua capacidade máxima, o segundo pior armazenamento verificado para este mês desde o ano 2000, ficando acima apenas do volume verificado em 2001, quando houve racionamento de energia no Brasil.
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"Os resultados das projeções até novembro de 2021 apontam para condições de armazenamento em praticamente todos os reservatórios da Bacia do Rio Paraná na faixa entre 5% e 10% de seus volumes úteis durante todo o período", afirma o ONS no documento. E alerta que, "considerando as premissas adotadas nesse estudo, caso as reduções das vazões (ações de armazenamento de água) sejam feitas para patamares inferiores aos apresentados e/ou de modo tardio, as perspectivas de armazenamentos serão piores".
Pesquisador sênior do grupo de estudos do setor elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel/UFRJ), Roberto Brandão reconhece que o cenário é grave, mas afirma que, como tem garantido o Ministério de Minas e Energia, não deve haver problemas com oferta de energia. "Vai ser com emoção, sem dúvida A realidade, por outro lado, é que há uma certa folga de geração nas demais fontes de energia, para além das hidrelétricas", avalia o especialista. "Mesmo que ocorram problemas pontuais, devemos atravessar o ano sem grandes preocupações, longe do que se viu em 2001, por exemplo."
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Em 2001, devido a restrições de geração hidrelétrica, o governo federal determinou o racionamento de energia em todo o país, impondo um corte de 20% para o consumidor. Quem não cortava seu consumo nesse volume, tinha de pagar uma multa pela energia excedente.
Desde então, a dependência das hidrelétricas caiu de 85% para 61% com a expansão de usinas como eólica, solar e biomassa, mas também com o uso de térmicas, que encarecem a conta de luz para todos os consumidores, além de serem mais poluidoras. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.