O repasse de 7% ainda não representa o aumento a ser percebido pelo consumidor final, já que o preço também é afetado por outras variáveis.Agência Brasil

Após os reajustes no preço da gasolina, diesel e gás liquefeito de petróleo (GLP, o famoso botijão de gás) divulgados no início desta semana, a Petrobras anunciou também o reajuste de 7% no gás natural canalizado vendido às distribuidoras. Segundo a estatal, esse reajuste passa a valer a partir do dia 1º de agosto. Para o bolso dos brasileiros, a notícia não é positiva e tende a afetar ainda mais a alta no preço dos alimentos.

Atualmente, tanto os combustíveis quanto o gás natural representam uma fonte primária de insumo para diversas atividades no cotidiano global. Com os sucessivos aumentos em subsídios como tarifa de energia, combustível e GLP, o que se pode esperar é o chamado “efeito dominó” e uma expectativa inflacionária cada vez mais elevada.

Segundo nota da Petrobras, o repasse de 7% não representa o aumento a ser percebido pelo consumidor final, já que o preço também é afetado “pelas margens das distribuidoras (e, no caso do GNV, dos postos de revenda) e pelos tributos federais e estaduais”.

Para Marlon Glaciano, especialista em finanças, esse reajuste tende a deixar ainda mais complicada a situação para as classes mais baixas, especialmente por conta do cenário ainda grave da pandemia no país.
“Ao falar em custo efetivo, durante a pandemia, a capacidade financeira das pessoas que pertencem às classes mais pobres reduziu 17%. Esse aumento tende a ficar entre 6% e 7% efetivamente, então é bem considerável em relação ao que está acontecendo", ressaltou.

Segundo o especialista, o aumento poderá ser sentido nos custos mensais das famílias, especialmente em despesas básicas, como a alimentação. Além do gasto maior para a cozinha do dia a dia, com a alta no consumo do chamado ‘delivery’, esse custo tende a ser repassado para o consumidor também nessa frente.

“Os empresários vão ter que repassar o custo do alimento. Se para ele produzir ficou mais caro, ele vai ter que repassar esse valor, então isso impacta tudo. Estamos falando da parte básica da vida: alimentação”, explicou.
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De acordo com a Petrobras, as atualizações de preço acontecem de forma trimestral e têm relação direta com a cotação do petróleo e a taxa de câmbio do real em relação ao dólar. Segundo a nota divulgada, “o petróleo teve alta de 13%, seguindo a tendência de alta das commodities globais; e o Real teve valorização de cerca de 4% em relação ao Dólar, em consequência, o ajuste será de 7% em R$/m³.”

Para o professor dos MBAs FGV, Mauro Rochlin, esse posicionamento da Petrobras representa uma mudança em relação às práticas utilizadas na regulamentação dos preços de derivados do petróleo. Na última sexa-feira, 2, os preços do barril de petróleo, elemento base para a estabilidade do preço do gás, foram balançados após o adiamento da reunião da OPEP+, que iria definir um acordo sobre o patamar de produção de petróleo, em meio à redução dos estoques e a uma crescente demanda pela commodity.
Segundo o especialista, essa seria uma das causas mais imediatas e prováveis para o reajuste, no entanto, o posicionamento da companhia vincula o aumento aos meses anteriores. “A Petrobras não dizia exatamente como ela fazia para estabelecer os preços anteriormente, mas ela alegava que seguia os preços internacionais. Se ela está se referindo a um preço atual, tendo como referência abril, maio e junho, significa que ela não está acompanhando mais os preços de mercado, e sim tendo uma defasagem em relação a ele”, pontuou.

Ainda segundo o economista, é provável que esse novo posicionamento gere repercussão acerca da mudança de posicionamento da companhia em relação aos preços.
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*Estagiária sob supervisão de Marina Cardoso