Presidente da CPI da Covid, Senador Omar AzizJefferson Rudy/Agência Senado

Brasília - Nesta terça-feira, 10, durante a abertura da sessão da CPI da Covid no Senado, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM) criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pela realização do desfile militar na Praça dos Três Poderes. Aziz classificou o evento como uma 'cena patética' e argumentou dizendo que esse tipo de ocasião "não pode passar impune". 
"Bolsonaro não tem direito de usar a máquina pública. Degradou instituições e rebaixou as Forças Armadas. Bolsonaro não liga para limites, como fica claro nesta cena patética de hoje. Não haverá golpe ou voto impresso. A democracia tem instrumentos para se defender contra golpes", declarou o presidente da CPI.
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O senador defendeu, ainda, que atos como este não devem ser usados para intimidar uma oposição legitimamente constituída, fazendo referência à votação da PEC do voto impresso, que acontece nesta segunda-feira na Câmara dos Deputados.
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"Desfiles como esse serviriam para mostrar a força para conter inimigos externos que ameaçassem a nossa soberania, o que não é o caso nesse momento. As forças armadas jamais podem ser usadas para intimidar a sua população, sus adversários, atacar a oposição legitimamente constituída, não há nenhuma previsão constitucional para isso", constatou.
Aziz reforçou também que este, sobretudo, não seria o momento para este tipo de manifestação, já que o país ainda está acometido pelos efeitos da pandemia: "Pessoas morrendo todos os dias pela Covid, fome em alta. E a pauta é uma pauta superficial, golpista e que não leva o País a lugar nenhum".

"Punição para aqueles que, mesmo brincando, falam de golpe como se fosse uma coisa normal. A democracia tem que ser respeitada", completou. 
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Vice-presidente da comissão, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destacou não ser a primeira vez que o presidente se utiliza do cargo para tentar intimidar os parlamentares.

"Talvez seja para não demonstrar a força, mas para esconder, como os esquemas de corrupção que esta CPI está descobrindo", expôs Randolfe.
'Loucuras' do presidente
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Já o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), cobrou as Forças Armadas para deixar de lado o que chamou de "loucuras" do presidente Jair Bolsonaro. 

"É muito importante que os militares tomem consciência do efetivo cumprimento dos seus deveres constitucionais, deixando de lado essas loucuras do presidente da República. O que está em jogo é a defesa do estado democrático de direito, da Constituição, da institucionalidade e eles não podem abrir precedentes com relação a isso", disse Renan antes da reunião da CPI.
Líder do governo no Senado concorda com 'preocupações'
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O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), disse concordar com as "preocupações" levantadas por senadores. Ele deixou claro que concorda com as críticas feitas na CPI da Covid, mas destacou que não acompanharia o que chamou de "excessos" nos discursos contra o chefe do Planalto, principal alvo da investigação.

"Estamos em trincheiras distintas, mas somos do Parlamento brasileiro. Eu tenho uma história nesse Congresso Nacional, eu sou subscritor da Constituinte cidadã, eu aposto na democracia e no Estado Democrático de Direito. Quero compartilhar as preocupações de todos aqui que reverberaram, apenas, digamos, assim, querendo retirar os excessos das falas que foram feitas", disse Bezerra após o presidente da CPI classificar o desfile como "uma ameaça de um fraco que sabe que perdeu".

Na tentativa de minimizar as críticas, o líder do governo destacou medidas adotadas pelo Executivo para diminuir os efeitos da covid-19, como o pagamento do auxílio emergencial a vulneráveis, e declarou que tem feito "alertas e ponderações" a Bolsonaro para diminuir o ambiente de radicalização ao lado do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
Os senadores Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Marcos Rogério (DEM-RO) defenderam a aprovação do voto impresso. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) criticou a interferência do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luis Roberto Barroso.

Outro aliado de Bolsonaro, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) adotou uma postura diferente e minimizou o episódio. "Forças Armadas em desfile não me assustam e nem me constrangem", declarou o senador. Para ele, o que constrange são "atos de corrupção praticados por governos anteriores".