Motoboy Ivanildo Gonçalves, da empresa vinculada ao Ministério da Saúde, VTCLog, depõe na CPI da Covid nesta quarta-feira, 1ºRoque de Sá/Agência Senado

Brasília - O motoboy Ivanildo Gonçalves, da empresa vinculada ao Ministério da Saúde, VTCLog, admitiu que entregava o dinheiro dos saques diretamente para a funcionária Zenaide Sá Reis. A declaração foi dada em resposta ao senador Humberto Costa (PT-PE), que questionou se houve momentos em que a funcionária pediu para ele levar dinheiro diretamente à empresa. Zenaide foi citada por Ivanildo nesta quarta-feira, 1º, como responsável direta por ordenar as retiradas frequentes que ele fazia em bancos e entregar os cheques referentes aos valores que ele deveria sacar.
Ivanildo também esclareceu aos senadores que, após o pagamento, indicava para Zenaide os comprovantes, quais boletos tinham sido pagos e quais tinham tido algum problema. Ele explicou também que nunca carregou grandes volumes em dinheiro, pois sacava os montantes, fazia os pagamentos de boletos e retornava à empresa com o que restava. Os saques eram todos realizados direto na “boca do caixa”.
Na avaliação de Humberto, restam alguns "buracos" no depoimento de Ivanildo, especialmente acerca das pessoas beneficiadas com os pagamentos dos boletos e das faturas de cartão de crédito que o motoboy realizava. Para o senador, a CPI deve aprofundar as investigações e ouvir a funcionária Zenaide.
Em outro momento, após a CPI mostrar imagens, o motoboy respondeu para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) que também recebia dinheiro das mãos da funcionária Zenaide para fazer os pagamentos no banco. Nas imagenes, ele aparece em idas à agência do Bradesco no Setor Industrial, em Brasília, entre maio e junho deste ano.
Renan Calheiros (MDB-AL) também questionou se o motoboy conhecia alguns endereços reunidos pela comissão. Em resposta, ele disse que reconheceu alguns. Entre eles, o de "seu Carlos", que o motoboy havia dito anteriormente conhecer como sendo um dos donos da VTCLog.

Momentos depois, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) apresentou uma planilha de precificação referente a uma licitação envolvendo o Ministério da Saúde e a VCTLog. Para a senadora, a empresa usou um “jogo de planilhas” para tentar conseguir um aditivo de R$ 18 milhões a um contrato.

Ainda de acordo com Eliziane, a VTCLog chegou a calcular o mesmo aditivo em cerca de R$ 57 milhões, somente pela manipulação dos produtos e valores na planilha. "Há um aparente contrato perfeito, mas no detalhamento minuncioso, a gente percebe um jogo de planilhas e, claramente, um aumento sem precedentes", enfatizou a senadora.

Ivanildo Gonçalves
De origem humilde, Ivanildo afirmou que recebe cerca de R$ 1, 7 mil por mês como motoboy na VTCLog, além de cerca de R$ 500 pelo aluguel da sua moto, que utilizava para fazer os serviços bancários. O depoente também afirmou que não tem patrimônio, somente um barraco onde mora.
Perguntado sobre a razão de ter decidido prestar depoimento após ter entrado com ação no STF para não comparecer à CPI, Ivanildo disse que queria “colocar um ponto final” nessa situação. “Estou aqui dentro do conhecimento do que eu estava fazendo, estou falando a verdade e não estou omitindo nada”, falou Randolfe.

“Você estava cumprindo serviço, você não é investigado aqui”, respondeu o senador.

Ivanildo também contou que passou a ser procurado insistentemente pela mídia desde que seu nome foi relacionado às denúncias envolvendo a VTCLog. Segundo o motoboy, a própria empresa ofereceu assistência jurídica para que ele pudesse ser orientado em relação ao depoimento.

“Eu conversei diretamente com a empresa. A empresa me apresentou o advogado e falou para fazer o que eu sentisse que deveria ser feito”, pontuou.
Acompanhe ao vivo:
Pagamento de boletos
Randolfe informou que a VTCLog emitiu na terça-feira, 31, uma nota pública dizendo que Roberto Ferreira Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, era devedor da Voetur.

"A VTClog mandava o motoboy pagar os boletos da Voetur em favor do Roberto Dias", afirmou o senador.

Foi nessa mesma época dos pagamentos, segundo o senador, que Dias aceitou, no Ministério da Saúde, um aditivo a favor da VTCLog, o que, para Randolfe, é a maior prova de incriminação do ex-diretor. Os senadores apontaram que os grandes saques começaram em 2018 e cessaram em 2019, voltando a acontecer em 2021.