Meninos vão três vezes menos ao médico que meninas, aponta dados do Ministério da SaúdeBanco de imagens Pixbay
Em pesquisa realizada pela SBU com adolescentes, foi constatado que 44% não usaram preservativo na primeira relação sexual e 35% não usam ou usam raramente o preservativo. Ainda 38,57% dos meninos disseram não saber sequer colocar o preservativo. Neste panorama de descuidado sobre a saúde sexual, destacam-se os dados sobre a cobertura vacinal do Papiloma Vírus Humano (HPV), disponível no SUS para meninos entre 11 e 14 anos desde 2017. Dados atualizados do DATASUS/Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (2013 a 2020) mostram que a média nacional de cobertura para segunda dose do HPV na população entre 11 e 14 anos encontra-se em 65,8% para a feminina e 35,6% para a masculina.
A entidade realiza ações on-line de esclarecimento como lives e conteúdos gravados em vídeos e em podcast no seu perfil nas redes sociais do Portal da Urologia (@portaldaurologia) e na Rádio SBU, disponível nos agregadores de podcast. Também haverá palestras on-line de urologistas em escolas para adolescentes. Além dos temas principais relacionados à sexualidade, também serão abordadas na campanha as temáticas das drogas e do suicídio.
“Apesar de todas as campanhas que falam sobre a importância do uso do preservativo, enfatizando a segurança quanto a uma gravidez indesejada, a aquisição de ISTs, parece que existe uma falha de como essa mensagem é passada, já que os adolescentes não se sentem confortáveis para conversar sobre sexo com a família, professores, e alguns, não conversam com ninguém”, afirma o coordenador da campanha #VemProUro, o urologista Dr. Daniel Zylbersztejn.
Entre as ISTs mais comuns estão sífilis, herpes simples, cancro mole, HPV, linfogranuloma venéreo, gonorreia, tricomoníase, hepatite B e C e HIV. Como exemplo da expansão das ISTs entre jovens podemos citar o número de casos registrados de HIV/Aids, que aumentou 64,9% na faixa etária de 15 a 19 anos de 2009 a 2019, de acordo com o Boletim Epidemiológico HIV/Aids do Ministério da Saúde de 2020.
O número de casos registrados da sífilis adquirida por meio do contato sexual também cresceu absurdamente entre todas as faixas etárias e passou de 3.925 por 100 mil habitantes em 2010 para 152.915 por 100 mil habitantes em 2019. A faixa etária de 13 a 19 anos é a penúltima mais afetada, ficando à frente da faixa de 50 anos ou mais.
Já o HPV tem uma prevalência mundial estimada em 11,7% e a faixa etária de maior prevalência é nos menores de 25 anos. Por ser uma doença na maioria das vezes assintomática e com remissão espontânea em até dois anos, muitas pessoas nem descobrem ter o problema e a passam adiante. Por isso a importância da vacina e do uso de camisinha nas relações sexuais. O HPV está associado ao câncer de colo de útero, de pênis, de ânus e de orofaringe.
Para o HPV existe vacina no SUS. A vacina é ofertada gratuitamente para meninas entre 9 e 14 anos, desde 2014, e meninos entre 11 e 14 anos, desde 2017. Embora já se saiba a importância da imunização, a cobertura vacinal dos meninos ainda é muito baixa.
Os dados do DATASUS/PNI revelam baixíssimas coberturas vacinais de HPV com as duas doses para meninos no Acre (15,2%), Amapá (20,6%), Pará (22,6%) e Rio de Janeiro (23,1%), respectivamente. E as melhores na ordem: Paraná (57,7%), Santa Catarina (49,7%), Minas Gerais (48,1%) e Espírito Santo (47,8%). Mas ainda longe da meta que é de 80%.
Adolescentes carecem de informações de qualidade sobre sexo seguro
Se a cobertura vacinal de HPV é baixa e os números de ISTs têm aumentado, um motivo a mais de preocupação é a carência de informações de qualidade sobre sexualidade e métodos de prevenção às doenças e gravidez não planejada.
Uma pesquisa realizada pela SBU com adolescentes de 12 a 18 anos em 2020 aponta que somente 30% deles falam sobre sexo com frequência nas conversas familiares e 35,7% falam eventualmente. Segundo 50% deles, a escola também é um ambiente desconfortável para essa conversa. Trinta e três porcento deles preferem falar sobre o assunto com o amigo e 41,67% preferem não falar com ninguém.
Meninos vão menos ao médico em todos os estados
Os dados do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), do Ministério da Saúde, mostram que a baixa ida do adolescente ao médico ocorre em todos os estados. Em São Paulo, 1.210.477 meninas de 16 a 19 anos foram ao médico em 2020, contra 378.123 meninos da mesma faixa etária. No Rio de Janeiro, compareceram ao especialista 380.089 adolescentes mulheres e 109.359 adolescentes homens. Em Minas Gerais, o médico avaliou 783.111 adolescentes mineiras versus 294.567 meninos. Já no Rio Grande do Sul, foram atendidas nesse período 412.079 mulheres e 148.684 homens.
Também foi observado que a pandemia interferiu nos cuidados com a saúde dos adolescentes. Houve uma queda de comparecimento ao consultório de 2019 para 2020 de 12% em relação às meninas e de 6,5% dos meninos.
Uma explicação para a discrepância está em fatores culturais. "Temos o costume de ver as mães levando suas filhas ao ginecologista assim que elas menstruam, mas os pais não levam seus meninos ao urologista. E essa visita ao médico, independentemente da especialidade, é importante para esclarecer o adolescente que está cheio de dúvidas e não sabe a quem perguntar. Assim acaba procurando o amigo ou até mesmo a internet para se informar, o que não é o ideal”, avalia Zylbersztejn.
Para o presidente da SBU, Dr. Antonio Carlos Pompeo, essa cultura é prejudicial e afeta a vida do homem. "Esse hábito se estende também para a vida adulta, e muitos homens só procuram o médico após sentirem algum mal-estar, o que é bastante prejudicial, pois a maioria das doenças urológicas como câncer de próstata não apresentam sintomas nas fases iniciais, quando há maior chance de cura. Por isso realizamos campanhas como o #VemProUro, pois acreditamos que a mudança desse cenário deve acontecer desde a adolescência", defende.
Outros riscos da adolescência
Além dos problemas causados pelas ISTs, os adolescentes estão vulneráveis a outras questões de saúde física e mental.
Segundo dados da última Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) 2015 do IBGE, no Brasil cerca de 26,8% dos jovens com idades entre 15 e 19 anos relataram consumo de álcool no ano anterior. O consumo de tabaco também é preocupante, sobretudo através de cigarros eletrônicos, o chamado vapping.
Apesar de a comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos serem proibidas no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária desde 2009, esses produtos são vendidos ilegalmente pela internet, no comércio informal ou, ainda, podem ser adquiridos no exterior para uso pessoal.
De acordo com um artigo da revista Ciência e Saúde Coletiva, o risco dos cigarros eletrônicos é grande, expondo o organismo a uma variedade de elementos químicos, inclusive causadores de cânceres, além de serem uma porta de entrada para o tabagismo convencional.
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