Plano de Trabalho para enfrentamento da covid-19 nas favelas será apresentado pela Fiocruz à AlerjErasmo Salomão/Ministério da Saúde
Essa foi a conclusão a que chegaram os pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação Científica em Saúde (Icict/Fiocruz) ao analisar os registros de notificação de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), com diagnóstico laboratorial de Covid-19, dentro da base de dados do Sivep-Gripe. É grande a quantidade de registros sobre pacientes que tomaram a primeira e a segunda vacina que não foram preenchidos ou que trazem apenas a palavra “ignorado”, de acordo com a recém-publicada Nota Técnica nº 20 do sistema MonitoraCovid-19, intitulada Qualidade dos dados de vacinação nas unidades de saúde de atendimento para Covid-19.
Os dados analisados no estudo foram as novas variáveis inseridas no Sivep-Gripe após o início da vacinação, que passaram a ser preenchidas no momento da hospitalização. Nessas novas variáveis, as unidades de saúde públicas e privadas informam se o paciente com SRAG foi vacinado, qual a data da primeira e da segunda vacina e a numeração dos lotes de ambas as vacinas.
Apesar da importância do preenchimento dessas informações, a grande maioria dos registros está incompleta, vazia ou com erro. Em estados como Amapá e Mato Grosso do Sul, por exemplo, foi informado ao Sivep-Gripe que mais de 90% dos pacientes internados estavam vacinados. Porém, apenas 6% (AP) e 21% (MS) dos registros trazem a data da primeira dose – na maioria dos casos, o campo foi preenchido com a palavra “ignorado”. Situações similares se repetem nos lançamentos da grande maioria dos estados, em diferentes proporções.
Necessidade de investimentos
“A análise da efetividade da vacinação é extremamente necessária. Não temos dúvidas da importância da imunização para o controle da pandemia. O que alertamos, neste estudo, é quanto à fragilidade de dados que são essenciais para amparar a comprovação científica quanto a essa efetividade. Precisamos de uma melhoria da qualidade dos dados”, analisa Diego Xavier, especialista em Saúde Pública da Fiocruz e um dos responsáveis pelo estudo do Icict.
A causa dessa inconsistência nas novas variáveis tem vários motivos, como explica Diego: “As equipes de Saúde na linha de frente, tanto no SUS quanto na rede privada, estão sobrecarregadas, operando no limite há muitos meses, e podem estar enfrentando diferentes dificuldades para o lançamento desses dados, desde a ausência de treinamento até a falta de tempo em meio ao atendimento acima do normal. Outra razão seria a própria natureza de aquisição dessa informação: é preciso que o paciente tenha o comprovante de vacinação no momento da hospitalização.”
Só que, muitas vezes, o próprio usuário não tem disponível o comprovante, no momento de entrada numa unidade hospitalar. Nesses casos, mesmo com uma estrutura adequada e equipes treinadas, não seria possível adquirir essa informação de forma confiável.
A Nota Técnica alerta que “análises que são veiculadas com base nos dados disponibilizados de forma aberta não devem ser consideradas para avaliação de efetividade dos imunizantes sem que haja um cuidado criterioso sobre a qualidade e a correção desses registros” e destaca, como fundamental para a solução do problema, o “investimento massivo em infraestrutura, treinamento e contratação de equipes para registro dos dados” de Saúde em nível nacional.
Enquanto a coleta dessas informações não se torna uma prática das unidades de saúde, Xavier propõe que se utilizem os dados coletados em alguns hospitais (destacados na Nota Técnica), onde as variáveis têm maior qualidade, que podem atuar como unidades sentinela, isto é, como uma amostra dos padrões reais que cada cidade ou região pode estar apresentando em relação à efetividade da campanha de vacinação.
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