O governo pretendia vacinar 20 milhões de pessoas nesta faixa etária Divulgação/Ascom

O Ministério da Saúde publicou, nesta quarta-feira, 15, uma nota técnica recomendando a estados e municípios a suspensão da vacinação do público adolescente sem comorbidade. A pasta volta atrás logo após o início da campanha de imunização desse público.
O documento do ministério, assinado por Rosana Leite de Melo, secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, afirma que a maioria dos adolescentes sem comorbidades são assintomáticos ou apresentam poucos sintomas. No entanto, especialistas dizem que vacinar os mais jovens é uma estratégia importante para frear a transmissão do vírus.

“A Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 revisou a recomendação para imunização contra covid-19 em adolescentes de 12 a 17 anos, restringindo o seu emprego somente aos adolescentes de 12 a 17 anos que apresentem deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade, apesar da autorização pela Anvisa do uso da Vacina Cominarty (Pfizer/Biontech)”, informa o ofício.
A justificativa dada para a nova diretriz é de que maioria dos adolescentes sem comorbidades acometidos pela covid-19 apresenta evolução benigna da doença. Além disso, a pasta também cita a redução na média móvel de casos e óbitos. O governo pretendia vacinar 20 milhões de pessoas nesta faixa etária.

Ainda segundo a nota, a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda a imunização de criança e adolescente, com ou sem comorbidades. Na verdade, não há orientação contrária da entidade internacional para a vacinação dessa faixa etária. A organização apenas diz que "crianças e adolescentes são menos propensos a ter complicações por causa da doença" e, por isso, é "menos urgente" a vacinação desses grupos.
Outro trecho da nota do ministério diz que "os benefícios da vacinação em adolescentes sem comorbidades ainda não estão claramente definidos". A vacina da Pfizer, único imunizante autorizado no Brasil para uso em adolescentes, já foi amplamente testada nessa faixa etária. Outros países como Estados Unidos, Chile, Canadá, França e Israel também usam a Pfizer em adolescentes.
No Brasil, a vacina já foi ofertada a pessoas mais vulneráveis à covid, como idosos, profissionais de saúde e pessoas com doenças crônicas, como transplantados, pacientes de câncer, diabéticos, entre outros.

A decisão da Saúde acontece em um contexto de aumento dos relatos de falta de vacinas no país, sobretudo para a segunda dose. Em São Paulo, por exemplo, foi autorizado o uso da Pfizer como substituta da AstraZeneca para 2º dose.
Rosana Leite de Melo assumiu a pasta de Enfrentamento à Covid-19 após a saída de Luana Araújo, que ficou poucos dias no cargo. Ela era defensora da vacinação em massa, crítica do uso da cloroquina (remédio sem eficácia contra o coronavírus) e chegou a falar em pressão política do governo Jair Bolsonaro. Nesta quarta-feira, 15, o ministro Marcelo Queiroga afirmou que há "excesso de vacinas" no Brasil, após uma série de Estados enfrentarem crise de abastecimento do imunizante da AstraZeneca.
Nesta quarta-feira, 15, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) publicou uma nota ressaltando a necessidade da imunização desse público.

“A vacinação de todos os adolescentes é segura e será necessária, priorizando neste momento aqueles com comorbidade, deficiência permanente e vulneráveis como os privados de liberdade e em situação de rua. Havendo quantitativo de doses suficientes para atender a estas prioridades deve imediatamente ser iniciada a vacinação dos demais adolescentes”, afirma.
De acordo com Fernandes, o Conass e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) enviaram uma nota conjunta ao presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, pedindo um posicionamento ao órgão. Ele afirmou que o Conass não pediu a suspensão da vacinação de adolescentes ao ministério, mas a priorização da dose de reforço aos idosos.
Estados
A cidade de São Paulo já informou vai manter a vacinação de adolescentes sem comorbidades, mesmo após a recomendação do Ministério da Saúde. Em nota, o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, até esta quarta-feira, 15, o município já tinha vacinado 85% do grupo. Ainda de acordo com a nota, será possível terminar a vacinação desses adolescentes até sexta-feira, 17.

Natal e Salvador, porém, suspenderam a aplicação dos imunizantes nesse público após a nova orientação da pasta.