Governo segurou dados sobre desmatamento na Amazônia para depois da COP 26Bruno Kelly/ Amazônia Real

Brasília - O governo Jair Bolsonaro (sem partido) omitiu dados sobre o desmatamento na Amazônia para não prejudicar a diplomacia durante a COP26, confererência destinada a discutir as questões ambientais no mundo. Segundo publicação do portal Metrópoles, os dados do Inpe, divulgados apenas nesta quinta-feira (18), que mostram um aumento no índice de desmatamento na Amazônia, já era de conhecimento do governo antes mesmo da COP. Por conta disso, a divulgação do relatório teria sido adiada para após o evento.
Segundo o relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a área desmatada na Amazônia foi de 13.235 km² entre agosto de 2020 e julho de 2021. Na edição anterior, o número foi de 10.851 km² entre agosto de 2019 e julho de 2020. Uma alta de 22% entre os dois relatórios.
É a maior área desde 2006, quando foi apontado 14.286 km² desmatados. A maior taxa na série histórica foi registrada em 2004, quando 27 mil km² de área desmatada foram registradas pelo sistema.
Atraso na divulgação dos números 
A data de 27 de outubro na nota técnica informa que o resultado já era de conhecimento do governo. A COP, que foi realizada em Glasgow, na Escócia, começou quatro dias depois que as informações sobre o desmatamento tinham sido liberadas.
Durante a COP26, na qual Bolsonaro ficou em uma posição distante de outros países, ele afirmou que "ali [COP] é um local onde quase todos apresentam os problemas para os outros resolverem. Você pode ver. China, Índia, EUA não assinaram nada. Nós somos os que mais contribuímos para a não emissão de gases de efeito estufa e que por vezes mais pagamos a conta, mais somos atacados", disse o presidente.
A alta na taxa de desmatamento divulgado pelo Inpe está em desacordo com as promessas apresentadas pelo Brasil durante a COP26. No primeiro dia do evento, no dia 1° de novembro, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anunciou que o Brasil vai zerar o desmatamento ilegal em 2028. A meta anterior estipulava 2030.
Na última segunda-feira (15), Bolsonaro afirmou, durante viagem ao Oriente Médio, que a Amazônia é "úmida" e "não pega fogo". Em 2020, o mandatário fez a mesma observação e afirmou que há uma "seita ambiental" europeia, cujo interesses são estimular uma "briga comercial" para prejudicar o agronegócio nacional.
Questionado sobre o caso, o vice-presidente Hamilton Mourão, que também é presidente do Conselho da Amazônia, negou ter visto os dados antes da COP-26. Ele disse ter tomado conhecimento dos números apenas na manhã desta quinta-feira (18), e não acreditar em atraso na divulgação de forma proposital.
"Sem desfazer dos números, que obviamente não são bons, a gente tem que olhar o tamanho da Amazônia, né? Vamos ver que a Amazônia Legal tem 5 milhões de quilômetros quadrados. Então, se nós tivemos 13 mil quilômetros de desmatamento, isso dá 0,23% da Amazônia que teria sido desmatada", afirmou o vice-presidente ao deixar o Palácio do Planalto, nesta sexta-feira, para almoçar. Na avaliação do general, existe uma "pressão" de ocupação da floresta vindo das pessoas que moram no Centro-Sul.
A jornalistas na saída de seu gabinete, Mourão declarou que trabalhava com os números do Deter, outro sistema de medição. "A nossa projeção era que o desmatamento ficasse 5% abaixo do ano anterior, né? O Inpe fez uma revisão do ano anterior. Se vocês olharem, diminuiu. E esse aumentou. Então, não sei se ano que vem pode dar uma reduzida nesse, também. Nós estamos analisando isso aí ainda pra ver qual é a realidade".
 
*Com informações do Estadão Conteúdo