Covid-19: pesquisa associa casos graves a desgaste do sistema imuneReprodução

Rio - Um estudo publicado pelo Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apontou que casos graves de Covid-19 estão associados a um processo de envelhecimento do sistema imunológico e imunodeficiência aguda. O estudo foi publicado nesta quarta-feira, 24, na revista científica Journal of Infectious Diseases. 
De acordo com os pesquisadores, nas amostras de sangue de 22 pacientes internados com casos graves de Covid-19, foram detectados sinais de hiperatividade, exaustão e envelhecimento de células de defesa conhecidas como linfócitos T auxiliares. Os cientistas afirmam que os dados indicam perda da capacidade de resposta dessas células na Covid-19 grave, o que pode facilitar infecções secundárias e reinfecções.
Coordenador do estudo, o pesquisador do Laboratório de Imunoparasitologia da Fiocruz e professor da Faculdade de Medicina da UFRJ, Alexandre Morrot, explica que os linfócitos T auxiliares atuam como maestros do sistema imune. No combate à infecção, essas células reconhecem as proteínas virais e ativam as células de defesa responsáveis por combater o vírus e produzir anticorpos.

“Nos pacientes com Covid-19 grave, observamos que os linfócitos T CD4 [auxiliares] estão em estágio final de diferenciação, apresentando marcadores de exaustão e senescência. São células que perderam a capacidade de expansão clonal, ou seja, não vão se multiplicar ao entrar em contato com as proteínas virais e não vão conseguir comandar uma resposta imunitária eficiente”, afirma o imunologista.
Segundo o pesquisador, o quadro pode ser caracterizado como um estado de imunodeficiência aguda. A queda na imunidade deixa os indivíduos mais vulneráveis para contrair outras infecções, como as pneumonias bacterianas, que são comuns em pacientes hospitalizados por Covid-19.
Hiperativação imune

A pesquisa comparou amostras dos 22 pacientes com amostras coletadas de indivíduos saudáveis. Além da presença de moléculas consideradas como marcadores de senescência e exaustão nos linfócitos T auxiliares, os pesquisadores encontraram altos níveis de substâncias inflamatórias liberadas por essas células no soro dos pacientes.

Os cientistas dizem que os dados indicam um processo de hiperativação, que leva os linfócitos ao estágio final de diferenciação celular, resultando em exaustão e envelhecimento do sistema imunológico. “Tudo isso reforça a importância de terapias anti-inflamatórias, voltadas para controlar a resposta imune exagerada, que é uma vilã na Covid-19”, comenta Morrot.

As análises contemplaram apenas a fase aguda da infecção. Portanto, o pesquisador acrescenta que não é possível apontar se haverá prejuízo para o sistema imunológico dos pacientes no longo prazo. “A Covid-19 ainda é uma doença nova e não sabemos como será a sua evolução. A literatura científica indica que células exauridas podem recuperar sua função. Já as células senescentes podem morrer e ser substituídas por células jovens. É possível que alguns meses após a doença, os pacientes não apresentem mais essas alterações, mas isso terá que ser acompanhado”, pondera o imunologista.