Dallagnol assina filiação ao PodemosReprodução

Curitiba - O ex-procurador da República e ex-coordenador-geral da Operação Lava-Jato, Deltan Dallagnol, assinou sua ficha de filiação ao Podemos nesta sexta-feira (10). O evento foi realizado no Hotel Mabu, em Curitiba, no Paraná. 
Participaram da cerimônia o ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, que também se filiou ao partido em novembro, a presidente nacional da sigla Renata Abreu, os senadores Álvaro Dias, Oriovisto Guimarães e Flávio Arns, o deputado estadual Paulo Roberto da Costa, conhecido como Galo, e o presidente estadual do Podemos no Paraná, César Silvestre Filho.
A candidatura consolida a relação de proximidade do ex-procurador com Moro, duramente criticada por opositores quando os dois comandavam a Operação Lava Jato. Apresentado por Moro como o próximo deputado federal "mais votado do Paraná", Deltan disse que irá assinar uma carta suprapartidária, visando "colocar no Congresso Nacional 200 deputados com três compromissos básicos: democracia, combate a corrupção e preparação política".
Ao sustentar sua atuação como procurador no que chamou de "defesa do que é certo", reforçou a postura de Moro de colocar o combate à corrupção como mote da campanha de 2022. O ex-juiz também esteve no evento, mas foi embora antes da fala do recém-filiado. Do lado de fora, um pequeno protesto de um coletivo ligado ao PT o acusava de ter usado o Ministério Público para fins pessoais e ser "inelegível" para uma possível candidatura.
De acordo com fontes dos bastidores políticos, o plano do ex-procurador é concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Paraná nas eleições do ano que vem. Já Moro, pretende disputar o Palácio do Planalto.
No discurso de filiação, Deltan defendeu as ações e decisões da operação Lava Jato e reclamou das alteração de leis e mudanças nas resoluções. "Nós vimos aprovação de regras que amarram o trabalho de procuradores e de juízes na investigação e no processamento de pessoas poderosas. Nós vimos passar regras que esvaziam as colaborações premiadas. Nós vimos passarem regras que amarravam e impediam as prisões preventivas da Lava Jato", afirmou.

Segundo Dallagnol, relembrou uma série de fases da força-tarefa e atacou decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que anularam condenações da Lava Jato e comparou a Corte a um árbitro que quer "mudar as regras e anular os gols" depois da partida. "É como mudarem as regras após o final do jogo e aplicando para trás, para o passado", disse. 
Quem também se pronunciou foi o ex-juiz Moro. Ele disse que Dallagnol se filiou depois de ver "os caminhos fechados no Ministério Público". Ele acrescentou que a eleição vai ser "o julgamento público que vai mostrar o que as pessoas realmente pensam. Vai representar mais do que diz um tribunal ou outro".
Moro foi um dos poucos a extrapolar o tema do combate à corrupção e voltou a levantar questões como os problemas econômicos. Citou por exemplo, o aumento da inflação, a taxa de desemprego e a recessão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. "Quando o País não cresce, o emprego também não aumenta e as pessoas sofrem", afirmou.
Ao final do evento, Alvaro Dias pontuou que a corrupção não é uma pauta única para o partido, mas que é inevitável devido à característica dos integrantes do Podemos. "Nosso tema é o Brasil, um projeto estratégico de desenvolvimento econômico e social", afirmou.
No mês passado, Dallagnol pediu demissão do Ministério Público Federal (MPF), após 18 anos na instituição. Na ocasião, ele afirmou que o trabalho de combate à corrupção vem sendo enfraquecido.

“Eu creio que agora eu posso fazer mais pelo país fora do Ministério Público, lutando com mais liberdade pelas causas em que eu acredito. Às vezes, é necessário dar um passo de fé na direção dos nossos sonhos. Eu tenho várias ideias sobre como eu posso contribuir e serei capaz de avaliar, refletir e orar melhor sobre essas ideias depois de sair do Ministério Público. Assim que essas ideias se concretizarem em planos e ações, eu vou compartilhar com vocês”, afirmou. 
Dallagnol esteve no centro de momentos controversos da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. Em um deles, apresentou um PowerPoint em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era apontado como chefe de uma organização criminosa. O fato foi lembrado pelo ex-juiz Moro em sua agenda de lançamento do livro "Contra o sistema da corrupção", na última terça-feira, 7. "Puxa esse PowerPoint foi realmente uma violação do Estado de Direito", ironizou.
Em setembro do ano passado, Deltan deixou o comando da Lava Jato no Paraná após seis anos no cargo. Na ocasião, ele afirmou que se afastou por questões de saúde em sua família.
Em fevereiro deste ano, a força-tarefa "deixou de existir", segundo o MPF. Os procuradores da força-tarefa passaram a integrar o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).