Fachada do Cremesp Reprodução/Google Maps/

São Paulo - O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) abriu nesta segunda-feira (13), um processo interno de apuração sobre as denúncias da influenciadora Shantal Verdelho, que afirma ter sido vítima de violência obstétrica por parte do médico obstetra Renato Kalil. O médico nega e diz que tomará 'providências jurídicas' por 'ataques à sua reputação'.
O caso veio à tona a partir de áudios e vídeo, enviados pela influenciadora em um grupo de amigos, que foram vazados nas redes sociais. Neles, ela relata o que ocorreu durante o nascimento de sua filha, Domenica, em setembro. "Quando a gente assistia ao vídeo do parto, ele (Renato) me xingava o trabalho de parto inteiro. Ele fala: 'porr*, faz força. Filha da mãe, ela não faz força direito. Viadinha. Que ódio. Não se mexe, porr*'", conta Shantal no áudio.
Em trecho do vídeo vazado, é possível ver o médico dizendo para Shantal 'fazer força' soltando um palavrão, que ela rebate: "Eu estou fazendo. Eu sou a maior interessada nisso". A influenciadora diz que era seu sonho ter um parto normal, por isso ao final tinha se sentido feliz por ter conseguido - o que mudou ao ver o vídeo gravado pelo marido, Mateus. "Depois que eu vi tudo, foi muito horrível. Quando mostrei o vídeo pra minha mãe e pra minha terapeuta, todo mundo chorou. Foi um show de horrores", diz na gravação.
Ela afirma, ainda, que o médico a teria 'rasgado com a mão' pois tinha a intenção de provar que ela deveria fazer a episiotomia, um procedimento que consiste em uma incisão no períneo, região entre o ânus e a vagina, para facilitar a passagem do bebê. A Cartilha da Violência Obstétrica, feita pela Promotoria Pública de Mato Grosso do Sul neste ano, coloca a realização da episiotomia sem necessidade como uma das formas de violência obstétrica.
Na gravação, diz que o médico falou de suas partes íntimas ao marido. "Ele chamou meu marido e disse: 'olha aqui, ela está toda arrebentada, vou ter que dar um monte de ponto na parereca dela'. Ele falava: 'olha aí onde você faz sexo, está tudo fodid*'. Ele não tinha que mostrar isso pro Mateus, ele nem sabia se a gente tinha essa intimidade", desabafa no áudio.
Violência obstétrica é o termo que caracteriza qualquer ofensa verbal ou física praticada contra mulheres gestantes, em trabalho de parto ou no período do puerpério - seja praticado pelo médico, pela equipe hospitalar, por familiar ou acompanhante. Em 2014, a violência obstétrica foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma questão de saúde pública que afeta diretamente as mulheres e seus bebês.
O médico afirmou, em nota, que a íntegra do vídeo mostra que "não há nenhuma irregularidade ou postura inapropriada durante o procedimento" e que Shantal teria "elogiado o procedimento em suas redes sociais durante trinta dias após o parto".
Shatal afirma, também, que o médico teria revelado, pelos stories do Instagram, o sexo do bebê sem o consentimento da mãe. Ele teria sido avisado que a influenciadora queria manter segredo pela fisioterapeuta no momento em que gravava o vídeo. Ao responder, ele teria chamado Shantal de 'mimada' e se negado a apagar a postagem.
Com isso, a influenciadora afirma que ele quebrou o sigilo médico e 'tirou seu direito' de contar pessoalmente aos familiares. Ela lamenta que sua irmã soube o sexo da recém-nascida pelo perfil do médico na rede social. Além disso, diz ter descoberto que ele 'falou da sua vagina' para outras pessoas, dizendo que 'estava arregaçada'.
No último domingo (12), a assessoria da influenciadora afirmou, pelo Instagram, que ela se afastaria das redes sociais 'para estar em família'. "Após toda a repercussão do caso e por estar com uma bebê recém-nascida, Shantal não está confortável em se pronunciar no momento", afirmou em nota. A influenciadora foi procurada pela reportagem, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.