Postagem foi classificada como enganosa pelo ComprovaArte/Comprova
Conforme demonstram as informações oficiais do governo de Israel, ambas leituras são incorretas. A vacinação não causou o surgimento das variantes: as cepas delta e ômicron já estavam em circulação no país quando a aplicação das doses de reforço foi aprovada, justamente para conter o aumento de casos da doença.
Apesar do crescimento no número de hospitalizações, o reforço ofereceu uma proteção importante. Os dados demonstram que a maioria dos internados na segunda onda da ômicron não estavam vacinados. Além disso, comparando as datas de aprovação das doses com as curvas do gráfico original utilizado na postagem, é possível notar que o efeito seguinte é o de queda nas internações.
As explicações de virologistas e epidemiologistas, dadas ao Comprova, também contribuíram para descartar a veracidade das interpretações sugeridas pela postagem.
O Comprova classificou como enganosa a publicação por distorcer dados com o objetivo de induzir o leitor a um erro de interpretação com relação às vacinas e a sua eficácia.
O grupo de Telegram que publicou a mensagem não disponibiliza outros meios de contato além do próprio chat, assim como os administradores não são identificados. O Comprova tentou entrar em contato pelo Telegram e até o momento não teve nenhuma resposta.
Uma pesquisa nas publicações no site do Ministério da Saúde de Israel e em reportagens locais e internacionais trouxe as datas de início da terceira e quarta doses no país, e o contexto em que foram aprovadas: quando as variantes delta e ômicron já estavam em circulação e as curvas de infecção e internações, ascendentes.
O Comprova encaminhou e-mails para diferentes endereços encontrados no site do governo de Israel, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
A equipe também fez contato com o virologista Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e com o médico sanitarista Gonzalo Vecina, ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que explicassem o comportamento do vírus e da vacina no organismo.
A reportagem também buscou os autores da postagem, sem sucesso. O Comprova contatou um grupo de nome semelhante, mas este esclareceu não ser o autor da postagem.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de fevereiro de 2021.
Essas inscrições dão a entender que a aplicação das terceiras e quartas doses da vacina foram a causa ou teriam contribuído para o avanço de novas variantes do coronavírus, ou que elas seriam ineficazes diante do aparecimento das mutações do vírus. As interpretações são sugeridas pelo seguinte texto que acompanha o gráfico:
“Uma imagem vale mais que mil palavras! Talvez desenhando fique mais fácil de entender a relação de eficácia das diversas doses de vacinas x avanço das novas cepas… Dados de Israel, um dos países que mais vacinaram sua população em todo o mundo.”
No entanto, as interpretações não encontram respaldo nos dados oficiais disponíveis no site do governo de Israel, nas informações consultadas na imprensa local e internacional e nas avaliações dos pesquisadores ouvidos nesta verificação.
Nesta notícia, de 5 de agosto de 2021, o Ministério da Saúde de Israel recomenda a vacinação de adolescentes diante da prevalência e alta transmissibilidade da delta, que foi identificada no país em abril. A terceira dose foi aprovada em 30 de julho (pessoas acima de 60 anos), 13 de agosto (50 anos ou mais), 24 de agosto (acima de 30 anos) e 29 de agosto (acima de 12 anos). Ou seja, quando a variante delta já estava em circulação. Ao observar essas datas no gráfico, é possível perceber queda na curva de internações na sequência.
O mesmo se dá em relação à onda de contaminação da ômicron. Segundo o gráfico abaixo, extraído do site do Ministério da Saúde de Israel (boletim de 10 de janeiro, pág. 3), a predominância da variante tem início no país em meados de dezembro de 2021, com a indicação próxima do dia 18. As quartas doses em Israel foram aprovadas em 2 de janeiro (pessoas com 60 anos ou mais) e em 26 de janeiro (acima de 18 anos). Portanto, após a prevalência da ômicron.
Outro dado que afasta as interpretações sugeridas pela postagem são os estudos de efetividade divulgados pelo Ministério da Saúde de Israel.
Sobre a terceira dose, pesquisadores da pasta e de universidades locais apontaram defesa imunológica 10 vezes maior contra infecção e forma grave da covid-19 após a terceira dose (de reforço) da Pfizer do que em pessoas que foram vacinadas com duas doses há cinco meses ou mais.
“Especialistas de todo o mundo estão tentando descobrir se o motivo da recorrência da doença se deve a alterações no vírus e, principalmente, à entrada da cepa Delta, erosão na eficácia das vacinas ou uma combinação dos dois”, diz trecho da notícia.
Nesta outra publicação, de 25 de janeiro, o Ministério da Saúde de Israel recomenda a quarta dose para pessoas entre 18 e 60 anos. A decisão foi tomada com base em estudo que aponta de três a cinco vezes mais proteção contra formas graves da doença após a quarta dose e duas vezes mais proteção para quem tomou a terceira dose.
A informação foi repercutida pela mídia local. Em 8 de fevereiro, o site The Times of Israel publicou reportagem em que o ministro da Saúde de Israel culpa os não vacinados pela alta pressão no sistema hospitalar do país.
A reportagem informa que, de acordo com estatísticas do Ministério da Saúde, as pessoas acima de 60 anos não vacinadas com dose de reforço têm 12 vezes mais chances de adquirir uma forma grave da covid-19 do que as imunizadas na mesma faixa etária.
Dois dias antes, o mesmo veículo de Israel publicou matéria reforçando a informação: em 6 de fevereiro, havia, entre pessoas com 60 anos ou mais, 415,6 casos graves por 100 mil habitantes entre não vacinados, contra 35,9 entre os vacinados.
Israel tem 9,217 milhões de habitantes. As vacinas aprovadas no país são Pfizer, Moderna e Astrazeneca. Foram vacinadas 4.457.409 pessoas com a terceira dose e 704.017 com a quarta, até 16 de fevereiro. Os dados constam em painel do governo de Israel, reproduzido abaixo, com destaque para o quadro ‘Vacinados’ (tradução do hebraico), e o detalhamento por número de doses.
“A vacina dá uma proteção para as pessoas. Ela diminui a carga viral, faz com que a contaminação não seja tão grave e não leve as pessoas à morte. Essa é a coisa mais importante da vacina”, explica Gonzalo Vecina, médico sanitarista e ex-diretor presidente da Anvisa.
O virologista e professor da UFRJ, Amilcar Tanuri, pondera ainda que a eficiência da vacina é maior do que a proteção causada pela contaminação natural. “A vacina cria o que chamamos de célula de memória e elas são melhores no combate às mutações do que os anticorpos criados pela infecção natural”.
Com o início da aplicação da terceira dose da vacina contra o coronavírus para a população em geral a partir do dia 30 de agosto, Israel viu os novos casos de infecções caírem no dia 13 de setembro.
Os dois profissionais, especialistas em vírus e suas propriedades e em contaminações em grande escala, explicam que a natureza do organismo do vírus é se modificar para sobreviver, e as vacinas dificultam essas modificações e não as estimulam.
“As mutações ocorrem de forma natural. As moléculas do vírus estão sempre em mutação, independente de vacina ou mesmo de infecção. O vírus está sempre mudando”, diz o professor Tanuri.
Para Gonzalo Vecina, professor da Universidade de São Paulo (USP), os dados do gráfico mostram impacto positivo das vacinas no controle do coronavírus, justamente devido à queda das curvas após a aprovação das doses extras em Israel:
“A vacina então faz esse combate ao vírus de maneira mais inteligente. Ela protege o corpo inclusive de algumas mutações dependendo de como ela ocorre. Diminui a carga viral e faz os efeitos serem menos agressivos ou danosos”.
Outras checagens feitas pelo Comprova já mostraram que a vacina não gera câncer, HPV ou HIV, que a segurança que a vacina traz supera os riscos de miocardite e que estudos foram distorcidos na tentativa de sugerir a ineficiência dos imunizantes. A Agência Lupa também fez uma checagem mostrando que a mortalidade por covid não aumentou depois da vacinação em Israel.
Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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