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O presidente Jair Bolsonaro (PL) ignorou o pedido de propina em ouro por um pastor que integra o gabinete paralelo do MEC, caso revelado pelo Estadão, durante um discurso na cerimônia de lançamento da Pedra Fundamental da Nova Escola de Sargentos do Exército, no Recife (PE).

O pronunciamento do presidente durou cerca de quatro minutos e focou em elogios ao Exército, sem qualquer menção à "pauta do dia" - a revelação de que o pastor Arilton Moura pediu R$ 15 mil antecipados para protocolar demandas da prefeitura de Luís Domingues (MA) no MEC mais um quilo de ouro após a liberação dos recursos, de acordo com o prefeito do município, Gilberto Braga (PSDB).

A Escola de Sargentos do Exército deverá centralizar a formação de sargentos no Brasil, hoje espalhada pelo País.
Entenda o escândalo no MEC
No último dia 18, o Estadão revelou que os religiosos Gilmar Santos e Arilton Moura, controlam a agenda do ministro Milton Ribeiro, intermediaram encontros de prefeitos no MEC que resultaram em pagamentos e empenhos (reserva de valores) de R$ 9,7 milhões dias ou semanas após promoverem as agendas.
O gabinete paralelo formado pelos pastores no Ministério da Educação obtém uma taxa de agilidade na liberação de verbas da pasta para municípios fora dos padrões de repasses federais. A prática vem sendo realizada desde o ano passado.
Só em dezembro foram firmados termos de compromisso, uma etapa anterior ao contrato, entre o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e nove prefeituras, de R$ 105 milhões após reuniões com os pastores. Em um dos casos, uma prefeitura conseguiu o empenho de parte do dinheiro pleiteado apenas 16 dias depois do encontro mediado pelos religiosos.

Especialista em finanças públicas, Eduardo Stranz afirmou que é fácil um prefeito conseguir liberar recursos em apenas 16 dias. "Isso é muito difícil. Temos coisas que não são pagas desde 2010, para você ter uma ideia. Conseguir essa liberação tão rápido… tem que ter muita vontade de todo mundo para sentar e conseguir essa liberação do dinheiro", disse ele, que é consultor da Confederação Nacional de Municípios (CNM). "Isso tudo envolve muita burocracia, muito papel, muita negativa"
Ao menos 48 municípios foram contemplados após encontros com pastores entre os primeiros meses de 2021 até agora, sendo 26 deles com recursos próprios do FNDE, o restante recebeu dinheiro de emendas do orçamento secreto.