Operação da PF destruiu parte do arsenal do garimpo ilegal em Terra Indígena YanomamiReprodução/Twitter
Waikás - A Polícia Federal (PF) destruiu nesta quinta-feira parte da logística utilizada por garimpeiros ilegais na comunidade Aracaçá, na região de Waikás, em Roraima. Os agentes inutilizaram motores, geradores, rede elétrica, seis barracos e sete mil litros de combustível.
A ação do Grupo de Pronta Intervenção (GPI) da PF ocorreu durante operação na Terra Indígena Yanomami para investigar a denúncia de estupro e morte de uma adolescente, de 12 anos, e o desaparecimento de uma criança de 3 anos, no Rio Uraricoera, após um ataque e tentativa de sequestro de indígenas por garimpeiros.
Na ocasião, os policiais flagraram materiais e instalações usadas pelos garimpeiros. Todo o material apreendido foi incinerado pela PF no próprio local. A PF informou que não encontrou indícios de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento durantes as buscas.
"Após extensas diligências e levantamentos de informações com indígenas da comunidade, não foram encontrados indícios da prática dos crimes de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento", informou a PF, em nota.
O comunicado acrescenta que "finalizadas as diligências in loco", as equipes voltaram para Boa Vista no começo da noite desta quinta-feira. A investigação é conduzida pela PF e conta com apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai), da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), do Ministério Público Federal (MPF), do Exército e da Força Aérea Brasileira.
Já o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana afirmou nesta sexta-feira que indígenas receberam ouro de garimpeiros para manter silêncio sobre crimes. De acordo com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, parentes da menina relataram que ela foi estuprada e violentada.
Hekurari afirma que a viagem ficou acertada em reunião na Superintendência da PF, em Boa Vista, nesta terça-feira. Os agentes serão transportados em um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) com capacidade para até 10 pessoas e deve levar 1h40 para chegar ao local. Eles deixaram Boa Vista por volta das 8h.
"Não foi possível ir nesta terça-feira por conta do mau tempo e as chuvas fortes que caem na região. Logo nas primeiras horas da manhã devemos seguir em viagem", afirma Hekurari, que também confirmou a presença de servidores da Funai na reunião.
O procurador do Ministério Público Federal de Roraima (MPF-RR), Alisson Marugal, disse que está à espera de novas informações para agir no caso. "Vamos aguardar o resultado da diligência lá na região. Mas certamente o MPF vai se inteirar dos fatos para tomar providências, se tivermos todas essas confirmações. A apuração cabe à Polícia Federal e nós, como Ministério Público, vamos dar total apoio", afirmou.
Modus Operandi
Com pouca oferta de caça e pesca em razão da destruição do meio ambiente e debilitados por doenças que os impedem de buscar o próprio alimento, jovens indígenas estão sendo forçados a trabalharem para os garimpeiros. Em um esquema criminoso, que envolve aliciamento, assédio de menores, violência e abuso sexual contra mulheres e crianças, algumas são embriagadas por bebidas alcoólicas e estupradas até a morte.
O Ministério Público Federal de Roraima e a Polícia Federal já receberam denúncias de crimes parecidos em outras regiões, mas casos específicos de estupro e morte por abuso em terras indígenas até então não foram investigados no âmbito federal.
Ainda de acordo com o presidente Condisi-YY, os garimpeiros não querem mais confusão com os indígenas e adotaram o aliciamento de jovens e adolescentes. "Estão levando muito dinheiro para as aldeias. Eles cooptam jovens entre 10 anos e 15 anos. As mães choram, já estão se acostumando com um mundo que não é da floresta, que foi invadida", diz Hekurari.