É falso áudio atribuído a membro do PT com ataques a igrejasArte/Comprova
Onde foi publicado: TikTok
Conclusão do Comprova: É uma montagem o vídeo que une trecho do programa Cidade Alerta Sergipe a um áudio de origem desconhecida incentivando movimentos da esquerda a atacar igrejas em defesa de Lula.
O vídeo traz uma foto do ex-tesoureiro do PT e ex-deputado federal Paulo Ferreira, insinuando que a fala seria do petista. O Comprova localizou a transmissão original da emissora e identificou que o conteúdo foi adulterado; o áudio não foi exibido no programa.
Além disso, a voz no áudio não condiz com a de Ferreira, com quem a reportagem conversou por telefone. Os áudios foram anexados nesta verificação.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos de grande alcance nas redes sociais. A publicação aqui verificada foi feita em 10 de fevereiro deste ano e alcançou mais de 40 mil compartilhamentos no TikTok até o dia 11 de maio.
O que diz o autor da publicação: O Comprova solicitou via comentário no TikTok uma forma de contato com o autor da publicação, mas não houve resposta.
Como verificamos: A partir de buscas no Google, foi possível identificar que o mesmo conteúdo já havia circulado anteriormente e foi objeto de verificação de outros veículos, como Aos Fatos, Estadão e Boatos.org. A partir dessas publicações, o Comprova localizou o vídeo original da TV Atalaia, possibilitando identificar o trecho da postagem aqui verificada.
Ao utilizar o mecanismo de busca de imagens reversas TinEye, a reportagem confirmou que a foto usada na montagem retrata o ex-tesoureiro do PT e ex-deputado federal Paulo Ferreira. A imagem é exibida em matérias de diferentes veículos nos últimos anos. O Comprova entrevistou o ex-tesoureiro e procurou o diretório do PT no Rio Grande do Sul, a TV Atalaia e o autor da publicação. Os dois últimos não responderam.
Vídeo original foi modificado
Além disso, declarou que a fala não condiz com a opinião dele. “Nunca, em qualquer momento da minha trajetória política, eu expressei esse conceito que a gravação acaba emitindo, de ataque às religiões. (…) Não é a minha voz, nem é o conteúdo que eu expresso e nem a minha opinião sobre o tema. Não tem conteúdo que se aproxime daquilo que eu penso”.
Paulo Ferreira diz que chegou a consultar se o material de fato havia sido veiculado pela emissora do Sergipe e a consultar advogados após identificar que se tratava de desinformação. “Mas tem uma dificuldade muito grande pra buscar a origem (…) Você não sabe onde foi feito, quem fez, só sabe que está na rede. Há uma dificuldade de identificação da origem da fraude, digamos assim, ou da fake news. Isso é uma característica da comunicação em rede contemporânea. A gente acaba sofrendo, não só eu, mas muita gente”, observa.
O diretório do PT no Rio Grande do Sul, estado pelo qual Paulo Ferreira foi deputado federal, também foi procurado pelo Comprova e emitiu nota afirmando que o vídeo é uma manipulação que associa uma voz desconhecida à imagem do ex-deputado, constituindo-se como “mais uma armação como tantas outras forjadas contra o PT, seus dirigentes e principalmente contra a sua militância”.
Sobre o conteúdo do áudio inserido na montagem, o PT-RS afirmou que a violência religiosa é uma prática combatida diariamente pelo partido, assim como a disseminação de desinformação: “O Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Rio Grande do Sul repudia veementemente o uso de notícias falsas, manipulações de áudios e de imagens”.
Quem é Paulo Ferreira
No mesmo ano, quando custodiado, outra prisão preventiva foi decretada contra ele na Operação Abismo, no âmbito da Lava-Jato. Ele virou réu no processo que apurou supostas irregularidades nas obras do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes), da Petrobras.
Em 2017, Moro autorizou a soltura do político gaúcho mediante pagamento de fiança, e o condenou em primeira instância. Em 2020, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) o absolveu pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa ao considerar não haver provas de participação na denúncia.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O vídeo falso atribui a um membro do PT áudio com potencial de prejudicar a isenta avaliação de eleitores em relação à candidatura de Lula nas eleições de 2022.
Comentários na postagem demonstram que usuários da rede social acreditam na veracidade do conteúdo. Uma usuária, por exemplo, afirma “eu era Lula até 1 segundo atrás agora tô repensando”, enquanto outro critica o áudio, escrevendo “como que esses cara quer mecher com Deus? com Deus ninguém se brinca amigo (sic)”.
Conteúdos desta natureza podem induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação.
Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo já foi checado anteriormente por Aos Fatos e Estadão, em fevereiro deste ano, e por Boatos.org, em março de 2021. O Comprova já verificou outras postagens com desinformação envolvendo pré-candidatos à presidência, identificando como fora de contexto vídeo no TikTok em que Lula chama colaborador da Petrobras de corrupto, que um protesto de indígenas na Bahia era por melhoria na educação e não por verba para ato contra Bolsonaro e que vídeos antigos são usados para enganar sobre adesão a atos pró-Bolsonaro em 1º de Maio.
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