Brasília - O empresário Luiz Felipe Belmonte admitiu para a Polícia Federal (PF) que pagou R$ 9,5 mil em reformas no escritório em Brasília de Renan Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro (PL). O depoimento faz parte da investigação que apura a suspeita de tráfico de influência do filho “Zero Quatro” junto ao governo Federal.
Segundo Belmonte, Jair Renan e Alan Lucena, personal trainer e ex-parceiro de negócios de Belmonte, pediram a ele que custeasse uma obra de melhoria em uma sala comercial usada pelo filho do presidente. O empresário, no entanto, negou que tenha pedido a Jair Renan para intermediar seus interesses comerciais junto ao governo. "Não tem nenhum relacionamento com o poder público", afirmou. Belmonte ainda falou que, se precisasse entrar em contato com o presidente, "trataria diretamente, não seria por intermédio do sr. Jair Renan".
Além disso, o empresário alegou que o parentesco de Jair Renan com o chefe de Estado é “irrelevante”, pois desde 2016 ele patrocina “diversos” atletas e atividades da área esportiva.
Um comprovante de transferência bancária obtido pela PF prova que o pagamento foi feito à Tânia Fernandes, arquiteta responsável pela obra do escritório, que fica em um camarote no Estádio Mané Garrincha. Belmonte, porém, disse em um áudio que preferia que a arquiteta não gerasse nota fiscal.
Na gravação, ele diz: “Então, a nota fiscal não precisa. Porém, se ela desejar passar, pode passar, sim. Fica a critério dela. Mas não precisa. Tendo o contrato certinho, fica tudo ok”.
Para O Globo, Tânia disse que: “Eu fiz o contrato de reforma do camarote, com o que seria feito, e ele fez a transferência, depois gerei o recibo de pagamento e executei a obra conforme estava planejado. Foi uma reforma simples e rápida. Foi mais pintura geral, um pedaço de parede de gesso, ajustes de elétrica, polimento da pedra que já tinha, instalação de iluminação simples e instalação de um piso flutuante de compensado imitando madeira. Neste orçamento, foi feito o pagamento de materiais e mão de obra".
A arquiteta continuou: Obra mesmo do tipo estrutural, ou alterações não ocorreu. No final, prestei contas e gerei o recibo de pagamento, como todo profissional faz. O resto de materiais, como mobílias, móveis, painéis, plantas e placa da logo deles, foi de patrocinadores de outras empresas, que foram passadas para mim e eu só defini o tipo, cor e tamanho, mas a tratativa ou acordos ou sei lá não foi comigo. Só defini mesmo mediante catálogos o que ficava bom lá dentro".
Conforme apurado pelo O Globo em abril, mensagens trocadas entre Lucena e a arquiteta indicavam que a busca por empresários que pudessem financiar a reforma do imóvel do “Zero Quatro” era uma prática comum.
A defesa de Jair Renan nega que ele tenha cometido algum ato ilícito. O advogado Frederick Wassef, que defende o “Zero Quatro”, disse que seu cliente "não solicitou dinheiro a ninguém, não recebeu um único real de quem quer que seja, não recebeu carro de presente, não atuou para nenhuma empresa, não solicitou que ninguém pagasse nada a ninguém e seu nome foi usado indevidamente" e que "não marcou reunião em nenhum ministério".
Bolsa Móveis
A busca por patrocínio para a reforma entre empresários já virou motivo de piada entre Lucena e Tânia, conforme mostram mensagens obtidas pela PF. No dia 22 de maio, Lucena disse que depois que conseguissem o dinheiro para a obra, seria mais fácil montar cotas de patrocínio para oferecer aos empresários. "Cota eletrônicos. Cota móveis. Cota reforma. Kkkkkk", escreveu ele. Tânia, então, respondeu: "Kkkkk vamos pedir bolsa móveis, bolsa reforma, bolsa família".
Debochando da situação, o personal trainer afirmou que os pedidos poderiam ser descobertos pela imprensa e gerar manchetes a respeito do assunto: "Já já sai na mídia. Filho de presidente pede Bolsa Móveis".
Belmonte
O empresário Luís Felipe Belmonte ficou conhecido por articular a criação do partido Aliança Brasil, que tinha o objetivo de acolher o presidente. O projeto, porém, não obteve sucesso e, depois disso, Belmonte passou a dirigir o Partido Social Cristão (PSC) no Distrito Federal.
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