Romeu Zema, de acordo com as pesquisas de intenções de voto, é o favorito à reeleição ao governo mineiro na disputa com Alexandre KalilReprodução

Belo Horizonte - Com a disputa pelo governo de Minas Gerais polarizada, os dois principais nomes que concorrerão ao Palácio Tiradentes Romeu Zema (Novo), atual ocupante do cargo, e Alexandre Kalil (PSD), ex-prefeito de Belo Horizonte, aumentaram os ataques nas últimas semanas, dando um tom de como deve ser a campanha no estado. A troca de farpas incluiu xingamentos como 'débil mental' e envolveu até o Atlético-MG, um dos times de futebol mais populares do estado.
A estratégia repete a receita da corrida presidencial, na qual o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) miram um ao outro, ignorando quem tenta furar a polarização para fazer frente aos dois. Na disputa mineira, no entanto há algumas peculiaridades. Enquanto Kalil atrelou sua imagem a Lula, Zema tenta se distanciar de Bolsonaro, de quem já foi próximo, e evita ataque incisivos ao petista. A busca pela neutralidade na corrida nacional se deve ao fato de o governador ter tanto eleitores lulistas quanto bolsonaristas no estado.
Ao atacar um ao outro, Zema e Kalil não abrem margem para que pré-candidatos que correm em suas raias ganhem espaços. Na esfera da direita, o senador Carlos Viana (PL-MG), que concorre como o candidato de Bolsonaro, mira suas críticas ao governador, alegando que ele 'traiu o presidente'. Do outro lado, o PSB, aliado nacional de Lula, lançou o ex-ministro Saraiva Felipe após ficar de fora das negociações entre o PT e Kalil.
A estratégia também tem viés midiático: ao reagir toda vez que um alfineta o outro, os dois pré-candidatos fazem com que seu nome fique em voga. Eleitores de Zema compartilham a reação do ex-governador, o mesmo é feito pelos apoiadores de Kalil. À tática do ex-prefeito também se soma a ideia de se antagonizar com o gestor estadual afim de conquistar o voto de quem rejeita Zema, principalmente fora da capital, onde Kalil tem menos apelo.
Os ataques se intensificaram no início do mês e desencadearam em uma troca de ofensa entre os dois pré-candidatos que durou dias. Em entrevista ao podcast 'Flow', Kalil chamou o adversário de 'débil mental' e criticou a conduta do governador durante a pandemia da Covid-19. O ex-prefeito afirmou que Zema não confrontou a postura negacionista de Bolsonaro, que minimizou os impactos causados pelo vírus.
"Ele (Zema) entrou debaixo da mesa, não enfrentou (Bolsonaro). A guerra tem que ser enfrentada", disse na ocasião.
Como resposta, o governador pediu para que o ex-prefeito da capital mineira fizesse um teste de QI. Essa declaração foi dada durante o Congresso Mineiro de Municípios, evento em que os dois discursaram.
Kalil sempre foi conhecido pelo temperamento explosivo. Durante o tempo que esteve à frente da prefeitura de BH, chegou a ser alvo de pedidos de impeachment por ter impedido a entrada de vereadores na sede do Executivo municipal e por ter os chamado de 'boçais'.
O ex-prefeito e ex-dirigente do Atlético Mineiro já vinha fazendo críticas a Zema. Em um dos primeiros vídeos da série 'Fala, papai', que publica nas redes no dia 15 de maio, por exemplo, Kalil chama de 'sacanagem' a proposta do governador para aumentar o Piso Mineiro de Assistência Social. Ele alega ainda que o subsídio social no estado teria um valor pífio.
Até então, Zema vinha evitando responder, mas a estratégia mudou e agora passou reagir e atacar o pré-candidato do PSD. Em entrevista ao jornal 'O Globo', chamou Kalil de 'zero à esquerda que fala grosso e não resolve'. Disse ainda que o ex-prefeito precisou se promover através da empresa do pai, Elias Kalil, e do Atlético-MG.
"Meu adversário não tem luz própria. Ele precisou do pai dele para se promover e quebrou a empresa do pai. Depois, precisou do Atlético. Ganhou um título, mas, depois que saiu, o time melhorou muito", alfinetou o governador.
Após a publicação da entrevista, Kalil retrucou e disse que Zema 'precisa lavar a boca para falar' do pai dele. Elias Kalil foi um dos dirigentes históricos do Atlético e comandou o time entre 1980 e 1985.
Apesar de dizer que não acompanha futebol, aliados do governador afirmam que ele também torce para o Atlético-MG. Zema também é próximo do atual presidente do time, Sérgio Coelho, com quem Kalil também já teve atritos. O coordenador da campanha de Zema, o ex-secretário Mateus Simões, acredita que tom belicoso entre os dois candidatos não continuará ao longo da campanha. Ele, no entanto, pondera que todos têm 'um limite'.
"Por perfil, o Governador tende a deixar as farpas sem resposta, mas acredito que todo mundo tem um limite. Não acho que isso será uma tônica na campanha, mas é inacreditável a desqualificação do discurso do Kalil, chamando as pessoas de idiota, débil mental", diz Simões.