Daniel Silveira e deputado Rodrigo Amorim (PTB) posam com a placa quebrada de Marielle Franco Reprodução/Redes Sociais

Rio - A família do escritor Carlos Drummond de Andrade foi categórica ao afirmar que o poeta, que faleceu em 1987, vítima de câncer, devolveria medalha Ordem do Mérito do Livro dada ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e a outros bolsonaristas na sexta-feira, 1º. Concedida pela Biblioteca Nacional para personalidades que contribuíram para o enriquecimento e pluralidade da literatura brasileira, a homenagem ao parlamentar foi alvo de críticas em razão da inexpressiva colaboração do parlamentar à cultura. 
Em carta, a família considera que a concessão da honraria ao deputado, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ataques à Corte e por estímulo a atos antidemocráticos, é um "verdadeiro deboche". Além do escritor mineiro, considerado um dos maiores nomes da poesia brasileira, Gilberto Freyre, Oscar Niemeyer e Afonso Arinos foram alguns dos contemplados com o prêmio. 

Leia na íntegra a carta da família de Drummond
"Em 1985, o escritor Carlos Drummond de Andrade recebeu a Medalha Biblioteca Nacional – Ordem do Mérito do Livro, concedida a intelectuais e autoridades que se distinguiam pelo trabalho em favor da cultura, do conhecimento e do saber. Agora, noticia-se que a comenda será entregue ao deputado Daniel Silveira, condenado à prisão pelo Supremo Tribunal Federal por ataques à democracia e a instituições que a legitimam. Diante desse verdadeiro deboche, a família de Carlos Drummond de Andrade vem a público lembrar que o poeta recebeu a homenagem quando a Biblioteca Nacional era dirigida pela escritora Maria Alice Barroso, nome respeitável que honrou e engrandeceu a Casa que também já teve, como diretores, intelectuais do porte de Josué Montello e Affonso Romano de Sant’Anna. Época em que o Brasil era outro, com autoridades que se faziam merecedoras de respeito pela dignidade, pelo decoro e pela conduta ética, mandatários que, diferentemente de hoje, não nos envergonhavam como povo e não nos apequenavam como nação."
Embora contrariada, a família de Drummond, em respeito à memória do poeta, não devolverá a medalha. No entanto, reiterou a postura e fidelidade do escritor aos seus valores quando decidiu recusar diversas honrarias durante a Ditadura Militar. O o professor emérito da UFRJ, Antônio Carlos Secchin, também recusou a premiação, assim como o imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marco Lucchesi, escritor, poeta e tradutor.

"Esse prêmio, eu não posso receber. Eu estou impedido de receber, porque não posso codividi-lo com o presidente da República, que persegue políticas do livro, destruiu bibliotecas. Eu tenho um compromisso de levar os livros e as bibliotecas nas prisões, nas comunidades indígenas e quilombolas. Portanto, é impossível. (...) Portanto, eu não poderia jamais receber essa medalha porque ela vai na contramão da minha vida, da minha biografia, das coisas que eu acredito. E um presidente que diz que prefere um clube de estande onde de tiro a uma biblioteca já diz tudo", disse Lucchesi, via redes sociais.