.TSE - Tribunal Superior Eleitoral: Urna eletrônicaAntonio Augusto/Ascom/TSE

As Forças Armadas vão pressionar novamente a Justiça Eleitoral. O Ministério da Defesa planeja remeter novo ofício cobrando respostas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a três questionamentos sobre a segurança do sistema de votação. A ação corrobora o que prega o comitê de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Atrás em pesquisas de intenção de voto a menos de 90 dias da eleição, Bolsonaro promove uma campanha de suspeição das urnas eletrônicas.
As Forças Armadas querem insistir, principalmente, numa reunião específica entre militares do Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber) e técnicos civis da Justiça Eleitoral. O objetivo, segundo generais, seria discutir alguns critérios adotados pela Corte e a ampliação dos testes públicos de segurança, que devem incluir um novo modelo de urna a ser usado pela primeira vez em 2022. Mudanças no teste de integridade das urnas, e incentivo a auditoria externa feita por partidos, como pretende o PL.
"Não há sistema que não mereça aperfeiçoamento", disse o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, na quarta-feira, em comissão na Câmara. Os militares descartaram a ideia adotada pela Polícia Federal, de programar um software próprio para auditar a contagem de votos. Mas já desenham planos para que se engajem na fiscalização de cada etapa do processo.
Segundo o general, as Forças Armadas "estavam quietinhas no seu canto" e foram convidadas a participar pela Corte, para garantir um processo transparente, seguro e com melhores condições de auditoria. "Tenho tentado em várias oportunidades, para que possamos sentar à mesa, conversar, conhecer melhor. Não tenho tido êxito", queixou-se o general. "O sistema está na mão do TSE, que vai decidir o que vai ou não acatar."
RESPOSTA
"Insistir nessa agenda de pressão desabrida e cínica sobre a Justiça Eleitoral, em clara atitude de vassalagem em relação a Bolsonaro, que é candidato à reeleição, é sinalizar ao mundo que o Brasil caminha paulatinamente rumo a um golpe de Estado", rebateu o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, em mensagem ao general no Twitter.
Nesta quinta-feira, em live, Bolsonaro voltou a insistir que houve fraude em eleições anteriores, o que nunca foi provado. Ele disse que vai convocar embaixadores estrangeiros em Brasília para falar sobre episódios de 2014, 2018 e 2020. O TSE convidou observadores estrangeiros para acompanhar as eleições de outubro, a contragosto do Palácio do Planalto.
O presidente do TSE, Edson Fachin, disse que todas as entidades integrantes da comissão devem ter as mesmas oportunidades de se manifestar. Essa resposta foi entendida na caserna como uma negativa da Justiça Eleitoral ao último pedido de reunião técnica.
A constante troca de ofícios entre Defesa e TSE não é mera formalidade. Os representantes de mais alto nível das duas instituições não se falam por telefone nem se reúnem pessoalmente. Para os militares, que se queixaram de desprestígio, Fachin se isolou.
O tom dos últimos discursos das Forças Armadas e do TSE foi dissonante. Na quarta, enquanto o ministro da Defesa negava na Câmara dos Deputados preocupação com um levante bolsonarista similar à invasão do Capitólio dos Estados Unidos, protagonizada por militantes trumpistas, o presidente da Corte afirmava, em Washington, que um distúrbio similar poderia ser ainda pior em Brasília. "Nós poderemos ter um episódio ainda mais agravado do 6 de janeiro daqui, do Capitólio", afirmou Fachin.
Também durante a live de ontem, Bolsonaro disse que seus apoiadores "já sabem o que fazer", porque, segundo ele, o TSE vai desconsiderar eventual auditoria da Defesa. "O senhor Fachin declarou que auditoria não serve para mudar resultado das eleições. Ou seja, auditoria para quê? Se o Comando de Defesa Cibernética detectar fraude não vai valer de nada esse trabalho. Não preciso aqui dizer o que estou pensando, o que você está pensando. Você sabe o que está em jogo e sabe como deve se preparar, não para um novo Capitólio, ninguém quer invadir nada, mas sabemos o que temos que fazer antes das eleições", declarou o presidente.