Mudanças climáticas têm ampliado os riscos de proliferação do mosquito transmissor mesmo em outras estações do anoReprodução
Até o último balanço foram confirmadas 585 mortes — aumento superior a 130% em relação aos 246 óbitos contabilizados em 2021 Entre os Estados que apresentaram o maior número estão: São Paulo (200), Santa Catarina (66), Paraná (60), Rio Grande do Sul (57) e Goiás (55).
"Os casos de dengue estão estourando. Já temos, inclusive, mais óbitos, em apenas seis meses, do que os registrados ao longo de todo o ano passado. Estamos vivenciando uma das piores epidemias da doença. E há receio de termos um cenário pior que o registrado em 2015, quando houve uma das piores epidemias da doença, com 986 mortes", avalia o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Embora o Aedes aegypti não sobreviva por muito tempo em baixas temperaturas — ao contrário do verão, quando o ciclo de vida pode chegar a até 60 dias —, os ovos e as larvas depositados na água permanecem vivos, podendo se desenvolver e dar origem a novos mosquitos com a chegada de semanas quentes, em qualquer época do ano.
Segundo o Ministério da Saúde, o período do ano com maior transmissão ocorre nos meses mais chuvosos de cada região, geralmente de novembro a maio. O acúmulo de água parada contribui para a proliferação do mosquito e, consequentemente, a maior disseminação da doença. No entanto, em anos com invernos chuvosos como o de 2022, o número de casos também tende a crescer, caso medidas de controle não sejam mantidas.
"Tivemos dois fatores. A questão toda é a chuva, mas no começo do inverno, no Sudeste e Sul, por exemplo, fez muito calor. Semanas com temperaturas maiores. Ou seja, as mudanças climáticas fazem com que a temperatura mais quente e mais chuva ofereçam uma condição perfeita para a proliferação do vetor", observa Barbosa.
O surgimento de outras doenças, como a covid-19, tende a reduzir o número de campanhas de conscientização, assim como provocar o relaxamento de ações preventivas por parte da própria população
"As pessoas acabam relaxando mais com relação às medidas de controle de combate à doença. Essa falta de ação contínua de conscientização por parte das autoridades e o relaxamento da população impactam no aumento de casos. Precisam ser retomadas o quanto antes. Está circulando o genótipo 2, que fazia um tempo que não circulava, que não é o mesmo da epidemia de 2015, desta forma, as pessoas têm mais suscetibilidade ao vírus", acrescenta o médico infectologista.
São Paulo é o Estado com mais óbitos no Brasil
Liderando o número de óbitos por dengue no País, o estado de São Paulo registra 292,1 mil casos de dengue e 250 óbitos até agosto de 2022, número que já apresenta alta em relação aos dados registrados até junho pelo Ministério da Saúde. Em 2021, foram contabilizados 145,8 mil casos e 71 mortes em todo o ano.
Ainda de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, as cinco cidades com maior número de óbitos pela doença até o momento são: Araraquara (17), Franca (14), Santa Bárbara d’Oeste (13), São José do Rio Preto (7) e Americana (7).
Para ajudar no combate à doença, o governo paulista está investindo R$ 10,7 milhões para apoiar prefeituras no controle da dengue, zika e chikungunya. "Os 291 municípios beneficiados foram selecionados com base nos indicadores epidemiológicos e entomológicos. Os recursos serão utilizados em ações de combate à disseminação do mosquito transmissor e monitoramento dos casos notificados", disse, em nota.
A secretaria acrescenta que o enfrentamento ao mosquito Aedes aegypti é uma tarefa contínua e coletiva, cabendo aos municípios o trabalho de campo para combate ao transmissor de dengue.
Riscos na região do Cerrado
Como mostrou o Estadão, estudo de cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), divulgado na revista científica PLOS, demonstrou que o avanço da destruição do Cerrado está diretamente ligado ao aumento do número de casos de dengue na região.
O Estado de maior preocupação é Minas Gerais. Dos atuais 2,2 mil casos por 100 mil habitantes, os registros da doença pularam para 4 mil por 100 mil habitantes. Para impedir que a projeção se concretize, alertam os cientistas, o País terá que controlar o desmatamento e adotar novas políticas ambientais e de saúde pública.
Doença infecciosa febril aguda causada por um vírus pertence à família
Flaviviridae, do gênero Flavivírus, o vírus da dengue apresenta quatro sorotipos, em geral, denominados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Geralmente, os sintomas da dengue surgem a partir do terceiro dia depois da picada do inseto, com uma média de cinco a seis dias.
É transmitido pela fêmea do mosquito Aedes aegypti (quando infectada pelos vírus) e pode causar tanto a manifestação clássica da doença quanto a forma considerada hemorrágica, conforme a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Sintomas da dengue
A doença pode ser assintomática ou pode evoluir até quadros mais graves, como hemorragia e choque. Na dengue clássica, a primeira manifestação é febre alta (39° a 40°C) e de início abrupto, usualmente seguida de dor de cabeça ou nos olhos, cansaço ou dores musculares e ósseas, falta de apetite, náuseas, tontura, vômitos e erupções na pele (semelhantes à rubéola).
Principais sintomas
- Febre alta acima de 39°;
- Dor no corpo e articulações;
- Dor atrás dos olhos;
- Mal estar;
- Falta de apetite;
- Dor de cabeça;
- Manchas vermelhas no corpo;
- Aumento progressivo do hematócrito (medida da proporção de hemácias no sangue).
"Nos casos graves, o choque geralmente ocorre entre o terceiro e o sétimo dia de doença, geralmente precedido por dor abdominal. O choque é decorrente do aumento de permeabilidade vascular, seguida de hemoconcentração e falência circulatória. Alguns pacientes podem ainda apresentar manifestações neurológicas, como convulsões e irritabilidade", alerta a Fiocruz.
Quando uma pessoa é infectada por um dos quatro sorotipos, torna-se imune a todos os tipos de vírus durante alguns meses e posteriormente mantém-se imune, pelo resto da vida, ao mesmo tipo pelo qual foi infectada.
No entanto, caso volte a ter dengue, um dos outros três tipos do vírus que ainda não contraiu, poderá apresentar ou não uma forma mais grave. A maioria dos casos de dengue hemorrágica ocorre em pessoas anteriormente infectadas por um dos quatro tipos de vírus.
Grávidas, crianças e idosos têm mais riscos de desenvolver complicações pela doença. Os riscos aumentam quando o indivíduo tem alguma doença crônica, como asma brônquica, diabetes mellitus, anemia falciforme, hipertensão, além de infecções prévias por outros sorotipos da dengue, de acordo com o Ministério da Saúde.
A dengue é a arbovirose urbana mais prevalente nas Américas, principalmente no Brasil.
Sinais de alerta da doença
Até o momento, não há remédio eficaz contra o vírus da dengue. O tratamento é realizado a base de analgésicos e antitérmicos e pode ser feito no domicílio, com orientação para retorno ao serviço de saúde. Deve ser mantido o repouso. Já o tratamento da dengue hemorrágica é realizado a partir de internação hospitalar do paciente.
Vacina contra a dengue
Ainda não está disponível para aplicação em larga escala uma vacina tetravalente, ou seja, que imuniza a população contra os quatro tipos de vírus dengue.
Na rede particular, só está disponível a vacina Dengvaxia, fabricada pelo laboratório francês Sanofi Pasteur. Apesar de proteger contra os quatro sorotipos da dengue e prevenir contra casos graves da doença, a Dengvaxia não é indicada para pessoas que nunca entraram em contato com o vírus da dengue.
"Os ensaios clínicos demonstraram que pessoas que nunca tinha sido expostas ao vírus da dengue, após serem vacinadas, tinham chance maior de complicações e hospitalizações para formas de dengue clássica, por esse motivo, a recomendação é apenas para quem já teve contato ou exposição ao vírus da dengue na faixa etária entre 9 e 45 anos", afirma Karolina Barreto Marinho, integrante do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).
Além disso, como é uma vacina atenuada, composta pelos quatro sorotipos vivos do vírus da dengue, também é contraindicada para gestantes, mulheres amamentando, pessoas com alergias graves aos componentes da imunização e pessoas imunocomprometidas.
Dicas de prevenção
- Encha os pratos dos vasos de plantas com areia até a borda;
- Troque a água e lave o vaso das plantas aquáticas com escova, água e sabão pelo menos uma vez por semana;
- Troque a água dos animais de estimação e lave as vasilhas constantemente;
- Coloque o lixo em sacos plásticos e mantenha a lixeira sempre fechada;
- Caixas d’água também devem permanecer fechadas e todos os objetos que acumulam água, como embalagens usadas, devem ser jogados no lixo. Limpeza também deve ser feita constantemente;
- Folhas e tudo o que possa impedir a água de correr pelas calhas também precisam ser removidos;
- Garrafas e recipientes que acumulam água devem ser sempre virados para baixo;
- Mantenha materiais recicláveis em saco fechado e em local coberto.
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