Além do impacto ambiental, seca também abala os rendimentos agrícolas e as economias, lembra pesquisadorFernando Frazao/Agência Brasil

Secas mais severas e longas, causadas pelo aumento das temperaturas globais, representam riscos significativos para as pessoas e ecossistemas em todo o mundo. É o que aponta um estudo da Universidade de East Anglia, na Inglaterra. A pesquisa constatou que 80% a 100% da população do Brasil, China, Egito, Etiópia e Gana serão afetadas por essas secas ao longo dos próximos 30 anos.
De acordo com o levantamento, publicado na revista Climatic Change, mesmo ocorrendo uma elevação modesta de 1,5°C, as mudanças climáticas trarão sérias consequências. Ainda que tenham tamanhos e níveis de desenvolvimento diversos, os seis países selecionados são os grandes representantes de três continentes que abrangem biomas tropicais e temperados, com uma variedade de espécies na fauna e na flora.
Jeff Price, um dos pesquisadores do artigo, quantificou as previsões dos impactos de aquecimento global sobre a probabilidade e a duração de secas severas. "Usando projeções populacionais padrão, estima-se que 80% a 100% da população no Brasil, China, Egito, Etiópia e Gana, e quase 50% da população da Índia estejam expostas a uma severa seca com duração de um ano ou mais em um período de 30 anos", diz.
Com um aquecimento de 3°C, mais de 50% da área agrícola em cada nação sofreria estiagem severa também durante 12 meses, por mais de três décadas. "Em contraste, descobrimos que cumprir a meta de temperatura de longo prazo do Acordo de Paris, que é limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, pode beneficiar muito todos os países", afirma.
Price explica que isso reduziria "bastante a exposição à seca severa para grandes porcentagens da população e em todas as principais classes de cobertura da terra, com o Egito potencialmente se beneficiando mais". Nesse cenário, no entanto, a seca triplicará no Brasil. Além do impacto ambiental, a seca também abala os rendimentos agrícolas e as economias, lembra o especialista.
A pesquisa aponta que todos os países citados precisarão lidar com o estresse hídrico no setor agrícola, potencialmente por meio da mudança de variedades de culturas ou por meio de irrigação, se houver água disponível. A quantidade de adaptação necessária para lidar com esse aumento na seca, portanto, aumenta rapidamente com o aquecimento global, conclui o levantamento.