Cresce número de brasileiros mortos por acidente vascular cerebralReprodução
No mesmo período, o infarto vitimou 81.987 pessoas e a covid-19, 59.165 cidadãos.
A presidente da Rede Brasil AVC e também da Organização Mundial de AVC, neurologista Sheila Cristina Ouriques Martins, disse à Agência Brasil que, por mais de 30 anos, o acidente vascular cerebral foi a primeira causa de morte no país. Isso mudou a partir de 2011, quando tomou mais impulso a organização do cuidado agudo do AVC. “O paciente, tendo AVC, tem aonde ir. Ele chega a hospitais preparados. Esse número de hospitais aumentou muito.”
A neurologista ressaltou, porém que, com o começo da pandemia de covid-19, os pacientes praticamente desapareceram, ficando mais em casa. Segundo a médica, a partir do final de 2020, o número de casos de AVC aumentou muito. Os pacientes começaram a chegar em estado mais grave, mais jovens e em maior número. “O AVC passou a ser, de novo, a primeira causa de morte no país”. De acordo com Sheila, isso aconteceu provavelmente porque as pessoas ficaram mais tempo sem prevenção, mais tempo sem ir ao médico e deixaram de tomar medicamentos preventivos, o que pode ter contribuído para o aumento de casos mais graves pós-pandemia.
Samu
Na data de hoje, a conscientização sobre a necessidade de identificação rápida dos sinais do problema e a prevenção ganham mais força na campanha realizada pela Rede Brasil AVC e a World Stroke Organization (WSO, ou Organização Mundial de AVC). As informações devem ser cada vez mais divulgadas, pois as mortes pela doença aumentam a cada ano: em 2020, foram 81.913 óbitos entre janeiro e 13 de outubro e, no ano passado, 84.818.
Existem dois tipos de AVC: o isquêmico, que ocorre quando falta sangue em alguma área do cérebro e corresponde a 80% ou 85% dos casos; e o hemorrágico, quando um vaso arterial se rompe. O socorro rápido evita o comprometimento mais grave, que pode deixar sequelas permanentes, entre as quais redução de movimentos, perda de memória e prejuízo à fala, “além de diminuir de forma drástica o risco de morte”, afirmou a presidente da Rede Brasil AVC.
Espasticidade
A associação promove a campanha Tempo É Movimento, com o objetivo de conscientizar a população de que as sequelas do AVC podem e devem ser tratadas. Segundo Eduardo Melo, a rigidez e os espasmos musculares, que são chamados de espasticidade, podem acontecer pós-AVC e devem ser tratados para devolver a mobilidade às pessoas e trazer mais qualidade de vida e independência. “Infelizmente, ainda é muito comum acharmos que é normal o paciente conviver com a sequela pós-AVC. E não deve ser assim", afirmou.
O diagnóstico da espasticidade é clínico e depende do grau do tônus muscular e da dificuldade do paciente em alongar o músculo afetado. Em geral, a espasticidade começa a aparecer nos primeiros três meses após a ocorrência do AVC. O tratamento deve ser multidisciplinar, com o acompanhamento por diversos especialistas (fisiatra, neurologista e fisioterapeuta, entre outros), e pode contar com medicamentos orais e injetáveis.
A cardiologista e especialista em medicina esportiva Renata Castro lembrou que, como o cérebro é responsável pelo comando de diferentes funções do corpo, as sequelas vão depender de qual área foi acometida pelo AVC. “Quanto antes o atendimento ao paciente com AVC for realizado, maior a chance de sobrevivência sem sequelas. Por isso, é importante que toda a população seja capaz de reconhecer os sinais do AVC, lembrados pela sigla Samu: sorriso, abraço, mensagem, urgência”, completou a cardiologista.
Demência vascular
De acordo com o médico, o problema costuma aparecer em até três meses após o AVC isquêmico e tem evolução rápida e maior que o de outros tipos de demência. “A demência vascular é a segunda causa mais comum que envolve lesões neurológicas em idosos e representa cerca de 5% entre todos os tipos de demência, ficando atrás somente da doença de Alzheimer.”
A condição é caracterizada por pequenas interrupções do fluxo sanguíneo, chamadas de infarto, que ocorrem no cérebro ao longo da vida, principalmente, em pessoas que já tiveram AVC. Esses infartos são localizados estrategicamente no sistema nervoso central e dão origem a diversos prejuízos cognitivos. Marcus Tulius ressaltou que esse tipo de demência é irreversível. Apesar disso, a doença pode ser tratada para atrasar a progressão e dar mais qualidade de vida aos pacientes.
O diagnóstico da demência vascular é feito por meio de exames neurológicos e de imagem, como ressonância magnética e tomografia computadorizada, além de avaliação médica dos sintomas apresentados pelo paciente e seus hábitos de vida.
Sintomas
Entre os sintomas, estão fraqueza ou formigamento na face, braço e perna, confusão mental, alteração na visão, no equilíbrio, na coordenação e dor de cabeça súbita e intensa. Os fatores que podem levar ao AVC são pressão alta, colesterol elevado, fumo, abuso de álcool, sedentarismo, obesidade, diabetes, arritmia cardíaca, depressão, ansiedade e alimentação inadequada.
A médica destacou que a campanha Salve o Tempo Precioso, da Rede, lembra sempre que o AVC tem prevenção e que cada minuto conta. “Salvando minutos, a gente salva vidas.”. Quanto mais rápido o paciente com sinais de AVC receber o tratamento adequado, mais se reduzem as chances de sequelas.
A Rede Brasil AVC é uma organização não governamental criada em 2008 com a finalidade de melhorar a assistência multidisciplinar a pacientes com acidente vascular cerebral em todo o país.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.