Governador de Alagoas, Paulo DantasReprodução

Aliado da família Calheiros, Paulo Dantas (MDB) assumiu o governo de Alagoas em uma eleição indireta, em maio, após o governador Renan Filho (MDB) renunciar para disputar o Senado — o vice, Luciano Barbosa, havia sido eleito prefeito de Arapiraca em 2020. Ao Estadão, Dantas disse que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), desafeto de Renan Calheiros, terá "menos poder" no futuro governo Lula (PT).
Adversário da família Calheiros em Alagoas, o deputado Arthur Lira vai ter o apoio do Partido dos Trabalhadores (PT) para se reeleger na presidência da Câmara. De acordo com Dantas, a decisão de apoiar Lira foi sensata e "garantiu a aprovação da PEC do Bolsa Família".

"O Brasil vive um momento de tensão, e o presidente Lula está tendo cautela. Arthur Lira já saiu para essa disputa para a presidência da Câmara com uma larga vantagem. O presidente Lula precisa de ambiente no Congresso Nacional para aprovar as medidas que viabilizem seu governo. Foi sensato esse entendimento, que garantiu a aprovação da PEC do Bolsa Família", explicou.
Segundo o gorvernador alagoano, Lira não será tão poderoso no governo Lula como era no de Bolsonaro: "O presidente Bolsonaro tinha contra ele vários pedidos de impeachment e, ao contrário de Lula, muita dificuldade de diálogo com o Congresso Nacional. Lula é acessível, bem articulado, conversa com a política e tem bons projetos. O presidente eleito conhece as demandas regionais. Lula tem a sua bancada. Bolsonaro tinha uma bancada muito pequena. Quem concentrou todo o poder foi Arthur Lira, que terá bem menos poder agora".
Questionado se Lula pode confiar em Arthur Lira depois do trauma que foi Eduardo Cunha para Dilma Rousseff e o PT, Dantas respondeu que ainda não teve a oportunidade de falar com o petista sobre o assunto. "Não conversei com o presidente Lula depois da eleição, mas eles fizeram uma leitura de que seria muito difícil ganhar a presidência da Câmara e Senado. O presidente preferiu não ter esse embate."
Antes de ser reeleito em outubro, Dantas foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) que investiga um suposto desvio de R$ 54 milhões por meio de funcionários fantasmas na Assembleia Legislativa de Alagoas quando o emedebista era deputado estadual.
Sobre a operação Edema, que levou o afastamento do governador alagoano do governo pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ), decisão revertida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Dantas afirma que "Houve uma grande armação política com intuito eleitoral" para prejudicá-lo.
"Eu critiquei e critico a atuação da Polícia Federal. Houve uma grande armação política com intuito eleitoral. Na passagem do primeiro para o segundo turno tivemos 300 mil votos de diferença As pesquisas apontavam 60% das intenções de voto. Ganharíamos com facilidade, mas apertou muito com a Operação Edema. A delegada superintendente da PF foi para Alagoas substituir um delegado no dia 5 de agosto, véspera das convenções", disse.
"A partir daí surgiram rumores de que haveria uma operação e que ela teria ido com essa missão. No dia 1° de outubro, o deputado Arthur Lira gravou um vídeo nas suas redes falando sobre a Operação Edema. Mas era uma operação sigilosa. No dia 10 de outubro, um dia antes da operação, o candidato nosso adversário convocou uma entrevista coletiva de imprensa para as 9 horas do dia seguinte, mas cancelou depois porque era muito escandaloso. A ministra Laurita Vaz foi induzida ao erro, mas o STF agiu e voltei ao governo, de onde nunca deveria ter saído", completou.
Apesar das críticas, o político afirmou que não acusa diretamente a Polícia Federal de ter agido diretamente contra ele. "Não estou acusando a PF, mas uma ala. Não sei de onde veio a ordem e não tenho como provar. Mas, depois da operação, eles concederam para nossos adversários informações da operação. Houve perseguição política".