Produção das vacinas contra a dengue e chikungunya no Instituto ButantanDivulgação/Comunicação Butantan
José Alfredo Moreira - Porque os vírus causadores dessas doenças são diferentes. Os componentes antígenos, que geram a resposta imunológica, são diferentes porque as estruturas dos vírus são diferentes. Os estudos das duas vacinas estão na fase 3 (testes em humanos), que é a última etapa antes da entrada com o pedido de registro na Anvisa.
Em relação à vacina da chikungunya, vocês estão buscando adolescentes voluntários para esses testes. Tem sido difícil atingir o número necessário, por quê?
Fernanda Boulos - Necessitamos de uma amostra de 750 pessoas, das quais 20% precisam ter tido uma infecção prévia. E isso nos trouxe um pouco de dificuldade no começo. Mas intensificamos o trabalho de divulgação junto aos 10 centros de pesquisas parceiros, em nove estados de interesse, e acreditamos que vamos atingir a amostra total em até duas semanas. Faltam cerca de 50 pessoas no momento.
A partir daí, qual será o próximo passo?
José - Daremos início aos testes para avaliar a resposta imunológica nos grupos de adolescentes que foram e que não foram expostos previamente ao vírus. Os testes em adultos foram feitos nos Estados Unidos e apontaram uma produção de anticorpos em torno de 90%, taxa que, até o momento, se manteve estável após um ano da aplicação. Mas lá não avaliaram o imunizante em pessoas que já haviam contraído a doença. Isso nós faremos aqui, com os jovens, com resultados que são possíveis de serem extrapolados para a população adulta.
Já em relação à vacina da dengue, o que se sabe até o momento?
Fernanda - O que vimos até agora foi 79,6% de eficácia para evitar a doença nos testes de fase 3, que envolveram mais 16 mil pessoas, na faixa entre 2 e 59 anos de idade. Essa taxa se manteve estável após dois anos da aplicação da vacina, mas o estudo prevê o acompanhamento em até cinco, prazo que termina em meados de 2024. Após o período, vamos reunir os dados e solicitar o registro à Anvisa.
José - Já em relação à chikungunya, o índice de 90% de resposta imunológica em adultos já é um indicador altamente promissor de que o imunizante irá prevenir formas graves da doença, especialmente morte e a ocorrência de sequelas como dores musculares que, em alguns casos, permanecem por longo período após a contração da doença. Mas o nível de eficácia mesmo só será avaliado quando a vacina estiver disponível na rede pública de saúde.
Por quê?
José - Porque mesmo em países em que a doença é endêmica, como no Brasil, os surtos são esporádicos e difíceis de prever. Isso dificulta chegarmos a uma amostra suficientemente grande de pessoas previamente infectadas para avaliarmos a eficácia. No entanto, as características da estrutura do vírus da chikungunya já nos permite prever a eficácia a partir da alta taxa de resposta imune verificada.
Essas vacinas são seguras?
José - Sim, pois elas utilizam a tecnologia de vírus atenuado, ou seja, ele continua ativo, com potencial para gerar a resposta imune, mas não tem o potencial de desenvolver a doença no organismo. Esta é uma tecnologia largamente utilizada no Brasil há muitos anos, em vacinas contra o sarampo, a caxumba, rubéola e febre amarela, entre outras.
Qual é a previsão para que essas vacinas sejam disponibilizadas na rede SUS? A produção será 100% nacional?
Fernanda - Acreditamos que, no começo de 2025, elas já estejam sendo aplicadas largamente na população. A vacina da dengue já está sendo produzida totalmente no Butantan. Já em relação à da chikungunya estamos em processo de transferência de tecnologia em contrato firmado com a farmacêutica europeia Valneva.
No Estado do Rio, o painel mostra 11.476 casos prováveis de dengue e 720 de chikungunya no ano passado. Os dados sobre mortes aparecem nos registros da Secretaria de Estado de Saúde. Segundo a pasta, foram 16 óbitos por dengue e nenhum por chikungunya em 2022.
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