Apesar da destruição na cidade, turistas permanecem em São SebastiãoRovena Rosa/Agência Brasil
"No sé (não sei), no sé nada", diz a turista espanhola que há dez dias está hospedada em Maresias e não quer se identificar. Sobre as mortes no bairro vizinho, Vila do Sahy, tampouco diz saber de algo. O sol e o calor estão mais fortes do que a vontade de conversar.
De longe, sob a proteção do guarda-sol de sua barraca, a vendedora Marta Higina Barroca Scheide Lopes, de 54 anos, sendo 11 de praia, não julga, apenas observa. Seu sustento vem dali, das pessoas que desprezaram a mensagem da prefeitura: "Vamos ter empatia! Vamos ter solidariedade! Não é o momento para os turistas visitarem São Sebastião", diz a publicação que viralizou nas redes sociais.
Opiniões
"Não tivemos o Carnaval, agora tem gente, não muita, mas tem", afirma Marta. "Esse movimento para mim vai dar uns 10% do que seria normal", completa. Sobrinha de pescadores, a autônoma Barbara Furtado, 26 anos, discorda da presença dos turistas. "Essas pessoas não ligam para nada. Quem perdeu tudo não foram eles, então estão aqui na praia", diz. Ela é uma das responsáveis por arrecadar alimentos para os desabrigados.
Os três barcos deixam Maresias, passam ao largo por Boiçucanga e entram no Rio Cambury, onde uma corrente de voluntários descarrega as doações rumo à Igreja Videira, no chamado "sertão" do bairro — a parte pobre, distante do mar.
Para ela, ver turistas na praia nesta sexta-feira não diz muito. "Isso aqui (o trabalho voluntário) não é para todos", afirma. "É bom que fiquem lá, curtindo a praia, a cerveja, o que for, aqui a gente se vira e faz."
Justificativa
A prefeitura orienta turistas a não viajarem para São Sebastião. O objetivo, segundo a administração, é evitar sobrecarregar o atendimento em hospitais e o abastecimento de água e de alimentos. Outra alegação é a de que as rodovias precisam estar desobstruídas para que veículos de socorro e de resgate possam circular livremente.
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