Urna Marajoara é recriada em impressão 3D como parte da exposição Ore ypy rã no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM).Tomaz Silva/Agência Brasil
O acervo está reunido na plataforma Atlas of Lost Finds, do estúdio belga de design Unfold, especializado na criação digital e impressão de peças em cerâmica. Inicialmente, estava voltado para a reunião de objetos do Museu Nacional e tinham sido escaneados ao longo de 20 anos antes do incêndio de 2018. Posteriormente, passaram a incluir no acervo imagens 3D de peças cerâmicas ancestrais da cultura marajoara que estão dispersas pelo mundo.
Colaboradora do trabalho, a artista visual Anita Ekman considera que a digitalização 3D possibilita um repatriamento simbólico. Segundo ela, há parcerias com diferentes museus onde se encontram as coleções, tais como o Peabody Museum de Harvard, o Museu do Quai Branly, da França, e o Museu Etnológico de Berlim, além de oito museus brasileiros, como o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP).
Patrimônio material
Para ela, as peças poderão ser recriadas através do projeto Replicando o Passado, desenvolvido pelo Museu Emílio Goeldi, considerado o maior museu amazônico com coleções arqueológicas.
A iniciativa é desenvolvida em parceria com o Atelier Mangue Marajó. “Os ceramistas da região vão ao museu visualizar e estudar essas digitalizações em 3D e replicar as peças. Estamos chamando de rematriamento, ou seja, voltar para a mãe terra, voltar à origem” explicou.
Um exemplo desse trabalho é a Urna de Berlim, uma urna marajoara em formato de mulher grávida, que se encontra no Museu Etnológico de Berlim, e foi reproduzida por ceramistas do projeto.
A tecnologia também pode ser usada na reprodução de peças. No último fim de semana, Anita Ekman foi uma das curadoras da mostra Ore ypy rã-Tempo de Origem, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM).
Na ocasião, usou-se uma impressora 3D criada para trabalhar com argila. Desenvolvida pelo artista Chico Simões, o equipamento utiliza tecnologia brasileira de software livre. “Para esse projeto adaptei uma impressora de sete anos para uma impressora 3D que pudesse trabalhar com argila”, explicou.
Museu Nacional
A mostra Ore ypy rã-Tempo de Origem é um desdobramento do mapeamento de artefatos arqueológicos de indígenas do Brasil espalhados em museus dos Estados Unidos e da Europa. É um trabalho desenvolvido desde 2021 por Sandra Benites (Guarani Nhadeva), que assinou a curadoria do evento ao lado de Anita Ekman.
Sua pesquisa resultou no mapeamento, com o auxílio da arqueóloga Cristiana Barreto, especialista em coleções marajoaras, de urnas funerárias da Ilha de Marajó e de zoólitos sambaquis (artefatos esculpidos em pedra) provenientes de Santa Catarina, espalhadas em mais de 20 instituições pelo mundo.
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