Brasil tem hoje 32 milhões de crianças vivendo na pobreza e insegurança alimentarDivulgação

Rio - A Ação da Cidadania lança, nesta quarta-feira (17), a campanha Brasil sem Fome, com o objetivo de arrecadar e distribuir alimentos para famílias em todo o país, como forma de assegurar o direito à alimentação adequada, principalmente na primeira infância. O projeto foi lançado pela primeira vez em 2002, retornando em 2021, durante a pandemia, quando foram doadas mais de 20 mil toneladas de alimentos em todo o país. Segundo dados do UNICEF, 32 milhões de crianças vivem hoje na pobreza e insegurança alimentar no Brasil.
Fundada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, a Ação da Cidadania nasceu em 1993 e se transformou no movimento social mais reconhecido do país. “Betinho já dizia que a democracia é incompatível com a miséria. Enquanto houver o desafio de superar a fome no país, não há como garantir que outros direitos sejam cumpridos. Se um cérebro saudável usa 20% da energia do corpo e essa energia vem dos alimentos, como uma criança com fome será capaz de aprender e ter bom rendimento escolar? Um corpo funciona em sua plenitude quando está nutrido. E o crescimento saudável só é possível com um Brasil sem fome”, ressalta Rodrigo “Kiko” Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania.
Segundo o instituto, outros fatores além da comida, como gênero, raça e cor, escolaridade, renda, tipo de ocupação e emprego também impactam no aumento da insegurança alimentar. Em recente pesquisa divulgada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), em parceria com a Ação da Cidadania, revelou que a fome no país dobrou e está presente em 18,1% das casas com crianças com idade abaixo de 10 anos. Em 37,8% das casas brasileiras onde moram crianças menores de 10 anos, há insegurança alimentar grave ou moderada. Esse percentual é maior do que a média nacional, quando consideramos todos os domicílios. A situação é ainda mais grave no Norte, onde 40% das casas com moradores nesta faixa de idade sofrem com a falta de comida, e no Nordeste, onde famílias de 7 dos 9 estados também passam por situações parecidas.
Além disso, 11 crianças menores de 5 anos são internadas por desnutrição no Brasil todos os dias, a maior média desde 2012, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com base em dados obtidos através do Ministério da Saúde. A região Nordeste concentra 36% dos casos, superando os demais estados do país.
“A falta de dinheiro para comprar alimentos e a diminuição da qualidade do que é consumido são fatores que confirmam a desigualdade social. Ainda que mães e pais deixem de comer ou tenham a alimentação reduzida para que os filhos sejam beneficiados, a associação entre desenvolvimento infantil e efeitos da nutrição irregular podem resultar em menor escolaridade e, consequentemente, menos oportunidades de trabalho, menor produtividade e salários mais baixos. Deixar que a fome impeça a realização de sonhos é uma violação da dignidade humana”, reitera Kiko.
O consumo de alimentos ultraprocessados, com resíduos de agrotóxicos e pobres nutricionalmente, com excesso de açúcar e farinha, tem sido outro problema entre a população pediátrica, devido ao aumento de casos de sobrepeso/obesidade e a diminuição da proporção de crianças eutróficas. Devido ao baixo custo e facilidade de acesso, esses itens têm substituído cada vez mais a chamada ‘comida de verdade’.
As doações devem ser feitas no site www.brasilsemfome.org.br ou pelo PIX: doe@acaodacidadania.org.br.