O litoral brasileiro tem quase 600 grandes portas de entrada para a poluição por resíduos plásticos no oceano. Isso é o que indica estudo realizado pelo Blue Keepers, iniciativa do Pacto Global da ONU no Brasil, que apresentou os dados nesta quinta-feira, 1, para representantes de países do mundo todo no segundo encontro do Tratado Internacional pelo Fim da Poluição por Plásticos.
Cerca de 2,3 milhões de toneladas do material, ou 67% de todo o plástico que pode chegar aos mares brasileiros por ano, podem vir de bacias hidrográficas de alto risco. Dessas, as mais críticas são as desembocaduras dos rios Amazonas (cerca de 160 mil toneladas/ano), São Francisco (230 mil) e a Baía de Guanabara (216 mil). A do Rio da Prata, que chega ao mar entre a Argentina e Uruguai, mas que carrega material plástico brasileiro, pode contribuir com mais de 1 milhão de toneladas por ano.
“Estamos na Década do Oceano e o chamado para ações para sua proteção nunca foi tão claro e consistente”, diz Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil. “Se 80% da poluição marinha vem de fontes terrestres, é aqui que atuaremos guiando o setor empresarial para ativar soluções de prevenção, em que seus negócios e modos de operação criem impacto positivo”, complementa o estudo.
Além do estudo, o Blue Keepers também lança seu Webmapa, ferramenta on-line pública, que mapeia e mostra detalhadamente os pontos críticos potenciais de escape de resíduos plásticos por todo o Brasil, sua probabilidade de trânsito nas bacias hidrográficas, e o risco de chegar ao oceano. Ele estará disponível no site do Pacto Global a partir do dia 8, quando se comemora o Dia Mundial do Oceano.
“Os rios desempenham um papel fundamental na contribuição e na mitigação da poluição plástica no oceano, uma vez que cruzam áreas intensamente urbanizadas e invariavelmente param no mar. E essa é uma questão que afeta também outros países, já que a bacia do Prata, que desemboca na Argentina e Uruguai, pode receber mais de 1 milhão de toneladas de plástico por ano, oriundos do Brasil, que por sua vez pode sofrer na bacia do Amazonas com a poluição gerada em outros cinco países” exemplifica Gabriela Otero, coordenadora do Blue Keepers.
Todos esses dados são apresentados durante a segunda reunião do Tratado pelo Fim da Poluição por Plásticos. O objetivo do Tratado é firmar um acordo internacional até 2024, que refletirá diversas alternativas para abordar o ciclo de vida completo dos plásticos, o design de produtos e materiais reutilizáveis e recicláveis e a necessidade de maior colaboração internacional para facilitar o acesso à tecnologia, capacitação e cooperação científica e técnica.
A pesquisa realizada pelo Pacto Global e Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo utilizou dados que percorrem toda a cadeia de interesse da prevenção à poluição: do consumo à reciclagem dos materiais, passando por categorias socioeconômicas e elementos geográficos como declividade e pluviosidade que favorecem o encaminhamento de resíduos plásticos para o oceano.
O primeiro estudo feito pelo Blue Keepers, divulgado no ano passado, apontou que cada brasileiro pode ser responsável por contribuir com 16 quilos de resíduos plásticos na poluição marinha por ano. São 3,44 milhões de toneladas desse material propensas ao escape para o ambiente no país, ou 1/3 do plástico produzido em todo o Brasil está sujeito a chegar ao oceano todos os anos.
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