Moro estaria envolvido na troca ilegal de mensagens entre procuradores da Lava Jato e autoridades suíçasFabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Procuradores da Operação Lava Jato trocaram informações por canais não oficiais com investigadores suíços que estavam atuando no caso da prisão de um executivo da Odebrecht. O senador Sergio Moro (União-PR), então juiz da 13ª Vara Federal em Curitiba, pressionava os brasileiros para que as negociações acerca da extradição de Fernando Migliaccio, do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht e que foi detido em fevereiro de 2016 em Genebra, na Suíça.

Mensagens obtidas pelo portal Uol e publicadas no blog do jornalisa Jamil Chade dão conta de que Orlando Martello, que era procurador da Lava Jato, se comunicava extraoficialmente com pessoas como Stefan Lenz, procurador suíço.

Em uma das conversas, Martello enviou uma mensagem em um grupo com procuradores suíços relembrando as autoridades do país europeu sobre uma pressão que Moro estava fazendo pela extradição de Migliaccio.
Conversas via Telegram
A reportagem do Uol aponta que as conversas não oficiais entre autoridades brasileiras e suíças, o que é considerado ilegal, foram mantidas durante cerca de três anos e aconteciam via Telegram.
As trocas de informações relacioandas foram identificadas pela Polícia Federal no âmbito da operação Spoofing, que tratou de investigar o hakeamento de contas tanto de Sergio Moro, como de procuradores que atuaram na Lava Jato.

As conversas eram diárias e o conteúdo tratava tanto de combinar linhas de atuação entre os investigadores dos dois países, como antecipar o envio de documentos referentes às investigações que só posteriormente seriam anexados a documentos oficiais.

Exemplo disso foi o momento da prisão de Fernando Migliaccio, que atuava no setor responsável pela distribuição de propinas da Odebrecht. A ação foi comemorada por Stefan Lenz, que só depois disse que informaria oficialmente as autoridades brasileiras.
"Ele tentou retirar seus bens e esvaziar um cofre. Para nós, ele é um dos principais envolvidos nos pagamentos feitos pela Odebrecht por meio das contas mantidas no PKB Privat Bank! Estou realmente ansioso para conhecer esse cara! Manterei vocês atualizados", escreveu o suíço no grupo.

Roberson Pozzobon e Deltan Dallagnol, ambos procuradores brasileiros, respondem com euforia a mensagem do suíço onde foi comunicada extraoficialmente a prisão do executivo da empreiteira.

A prisão, que ocorreu no dia 17 de fevereiro e já era de conhecimento tanto de procuradores suíços como brasileiros, foi oficialmente informada à Lava Jato somente no dia 19.
Solicitação informais
No dia 22 de fevereiro, Stefan Lenz faz um pedido explícito por uma troca informal de informações no grupo de mensagens. "Você têm mais detalhes para sobre esses pagamentos à Argentina que poderia compartilhar conosco informalmente?".

Então, Deltan informa que um procurador identificado apenas como Douglas encaminharia os documentos para os suíços via Telegram. Lenz agradece e afirma que os brasileiros estão fazendo um "ótimo trabalho".
Quatro dias depois é a vez de o procurador suíço, uma das pessoas mais ativas no grupo, informar, novamente de maneira informal, quais os pertencentes tinham sido apreendidos com Fernando. "Fernando tinha dois computadores, pelo menos 7 telefones celulares e outros dispositivos eletrônicos com ele. Precisaremos de sua ajuda para analisar os dados", disse. Dallagnol, mais uma vez, comemora.

Menções a Moro
Orlando Martello, ainda em fevereiro de 2016, cita Sergio Moro ao dizer que o juiz queria enviar rapidamente os documentos solicitando a extradição do executivo da Odebrecht. Ele pergunta a Lenz se essa ação prejudicaria uma estratégia de manter Fernando detido na Suíça por mais alguns meses. O suíço responde que sim, pois o envio imediato do pedido de extradição poderia dificultar um plano traçado entre os investigadores. "Por favor, faça todo o possível para evitar isso", pontua.

Na sequência, Martello afirma que conversou com Moro sobre a orientação vinda da Suíça e diz que ele concordou em retirar o pedido de extradição naquele momento, mas com a condição de um acordo mútuo entre Fernando, autoridades suíças e brasileiras.