Especialista em Política Climática, Marina Marçal, durante o Festival Latinidades 2023José Cruz/Agência Brasil
A especialista em política climática Marina Marçal mediou a roda de conversas e, aos presentes, recitou o poema Vozes-Mulheres (leia a íntegra ao final da matéria), da escritora afro-brasileira Conceição Evaristo.
Do extrativismo ao poder público
Edel diz ter deixado a invisibilidade. A ocupante do cargo no MMA se vê diante de novos desafios. “Agora, povos e comunidades tradicionais de todo o país, avançaremos de mãos dadas com servidores públicos federais, no enlace de braços, em uma fileira ou uma ciranda, ainda que imaginária, tal qual a profecia e o impacto de seringueiros e seringueiras, nos anos de 1970 e 1980, para impedir o avanço das pastagens sobre as florestas.”
Defensora da Amazônia
A secretária de Mulheres do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, Maria Nice Machado, levou ao festival produtos da bioeconomia da floresta, como sabonetes - José Cruz/Agência Brasil
Em entrevista à Agência Brasil, Nice destacou que as mulheres contribuem na defesa da Amazônia e por justiça climática, com conhecimentos tradicionais.
“Eu defendo a Amazônia porque é o coração do mundo, de toda a gente, de todo ser vivo. Todo mundo precisa do ar, água e da floresta para existir. Sem a Amazônia, a gente jamais poderá continuar a viver. Por isso, a gente diz que a morte da Amazônia é o fim das nossas vidas.”
População negra
Selma Dealdina denunciou a prática de racismo ambiental, que afeta, principalmente, as comunidades de pessoas negras, indígenas e pobres, por exemplo, com a instalação de aterros sanitários em áreas já marginalizadas. Ela ainda criticou a aceitação do poder público à monocultura do eucalipto e suas implicações ambientais negativas.
A representante da Conaq ainda cobrou políticas públicas voltadas, de fato, ao segmento negro da população, com orçamento público compatível com as atividades que precisam ser desempenhadas, na visão dela. Para Selma Dealdina, a prioridade deve ser a titulação dos territórios quilombolas, para haver justiça social.
A liderança quilombola ainda falou sobre expectativas em relação ao poder público para custear políticas antirracistas. “A gente não espera outra resposta do governo que não seja um orçamento voltado à raça, ao gênero, às questões geracionais e da diversidade. Não tem como não olhar para nós, negros e negras, não olhar para periferia, a comunidade LGBTQIA+, as mulheres”, destacou.
“Na política antirracista, não tem como, nos próximos três anos e meio, o atual governo não ver que isso é prioridade. Então, a gente não espera outra coisa do governo que não seja uma divisão justa [do orçamento]”, cobrou.
No fim dos diálogos, a organização da sociedade civil internacional com representação no país Oxfam Brasil anunciou a campanha sobre as mulheres da floresta que será lançada em 25 julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, com depoimentos de diversas extrativistas brasileiras.
As mulheres repetiram juntas, em pé, de mãos dadas, sucessivas vezes, o tema da iniciativa: “Onde tem floresta em pé, tem mulher”.
Festival Latinidades
Neste ano, pela primeira vez, o Festival Latinidades sairá da capital federal e será realizado nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, a partir de 15 de julho até o dia 30. A iniciativa marca o Julho das Pretas, mês escolhido para fortalecer ações políticas coletivas e autônomas de mulheres negras, em diversas esferas da sociedade.
As inscrições para participar do evento são gratuitas e a programação completa, nas quatro capitais, está no site do festival.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.