Irmã e cunhado da vítima em entrevista a TV GloboReprodução: TV Globo

A irmã da jovem, de 22 anos, que foi estuprada após um show na madrugada do último sábado, 29, na região Noroeste de Belo Horizonte, pediu justiça na manhã desta terça-feira, 1º, e disse que não sabe muito bem o que fazer. "Nós vamos ter que catar os cacos da minha irmã para conseguir colocar ela de pé de novo. Minha família está destruída, completamente desestruturada", lamentou Kelly, em entrevista ao programa 'Encontro' da TV Globo.
Ela também demonstrou indignação com a conduta do motorista de aplicativo, que deixou a vítima desacordada no meio da rua após ninguém atender a porta da casa. 
Além das críticas pelo fato do motorista não ter feito mais barulho para tentar acordar alguém da vizinhança, a família ainda questiona o caso de uma outra pessoa ter aparecido para ajudá-lo a deixar a vítima sozinha em frente ao local.
"Quem é essa pessoa? Ele chamou por telefone? Porque eu não vejo uma pessoa qualquer parando e ajudando alguém como se estivesse desovando uma pessoa. Minha irmã foi jogada ali como um saco de lixo", afirmou.
A família disse que está "pasma" com toda essa situação: "O que a gente vai falar para essa menina? Vamos pedir calma? Vamos falar com ela que isso vai passar? Como que fala isso?", desabafa Diego, cunhado da vítima.
De acordo com familiares, a jovem estava no evento Tardezinha do cantor Thiaguinho, no Mineirão, na Pampulha, na tarde de sábado. Acompanhada de um grupo de amigos, a vítima teria ingerido altas quantidades de álcool e ficado debilitada. Então, um carro de aplicativo foi chamado para levá-la até sua residência no bairro Santo André. 
"Ela estava bêbada, mas não desacordada. Ela entrou no carro acordada (...) e esse amigo se disponibilizou a ir com ela, mas ela não quis, falou que não precisava. Ofereceu de ela dormir na casa dele, mas ela não quis", aponta a irmã da vítima.
Imagens de câmeras de segurança mostram o carro de aplicativo chegando na porta da casa da vítima por volta das 3h. Depois disso, o motorista desce do veículo e tenta tocar o interfone, mas sem sucesso. O motorista então deixa a moça na calçada e vai embora. Ele recebeu ajuda de um motociclista, que passava na rua no momento, para retirá-la do carro.
O trajeto foi compartilhado com o irmão da jovem. Entretanto, de acordo com a família, ele não chegou a ver a mensagem chegar. Minutos após ser deixada na frente da casa, um terceiro homem aparece, percebe a vítima sem reação na calçada e decide carregá-la nas costas por alguns quarteirões do bairro Santo André.
"Ele (irmão) tem asma e nesse dia ele tinha passado no hospital, tomado antialérgico e medicações que dão sono. Ele dormiu e não viu a mensagem chegar", relatou Kelly.
Os familiares ainda disseram que o interfone não tocou e criticam o fato do motorista não ter tentado buzinar ou outra forma de fazer barulho para que alguém da vizinhança pudesse acordar.
Eles também questionam o fato do motorista não ter levado a vítima, que estava desacordada, a uma unidade hospitalar que fica a poucos metros da rua da casa dela, onde foi deixada sozinha.
Em nota, a empresa "99", responsável pelo aplicativo de transporte, disse que "lamenta o ocorrido após a conclusão da corrida" e que "fez o bloqueio preventivo do motorista".

A plataforma também afirmou que "aguarda que a polícia esclareça fatos e responsabilidades, estando à disposição para colaborar com a investigação".
Os familiares também criticaram a atuação dos médicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A ambulância foi acionada por volta de 7h de domingo, 30, por uma pessoa que viu a moça desacordada no campo de futebol.
"O Samu foi até o local, viu que ela estava com a calça arriada até o joelho, desacordada. Acordaram minha irmã, atordoada, seminua, e ela pediu pra levar em casa. (...) Eles falaram que não podiam fazer isso, só levar no hospital", narra a irmã da vítima.
Ainda segundo a família, por se tratar de uma região de muitas pessoas em situação de rua e usuários de drogas, os médicos podem ter achado se tratar de um andarilho da região.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, responsável pelo Samu, confirmou que houve o primeiro atendimento e que a vítima recusou o encaminhamento para o hospital, mas nega omissão de socorro.
 
No Hospital Odilon Behrens ela fez exame de corpo delito e teve constatado o abuso sexual. O suspeito do crime foi localizado pela polícia e preso na noite do mesmo dia. Vídeos Weberson Carvalho da Silva, de 47 anos, saindo sozinho do campo, por volta das 7h08.
Em nota, a Polícia Civil disse que ele prestou depoimento e foi preso em flagrante por estupro de vulnerável. Ele passa por audiência de custódia nesta terça-feira, 1º, após as 18h, para definir se continuará preso.
O caso está sendo investigado pela equipe da Delegacia Especializada de Combate à Violência Sexual em Belo Horizonte.