Deputado federal Zucco se retratou por uma fala contra Sâmia Bomfim (PSOL-SP)Reprodução/Redes sociais
Melancias, hambúrgueres e bate-bocas tomam conta de CPIs na era das redes sociais
Exemplos da semana passada mostram que, para aparecer na TV e 'lacrar' na internet, vale fazer piadas que envergonhariam um mau aluno de quinta série.
São Paulo - As comissões parlamentares de inquérito (CPIs) são instrumentos importantes de atuação de deputados e senadores. Nos últimos tempos, entretanto, têm sido palco de discussões pouco republicanas, com sessões marcadas por discussões, xingamentos e ações cênicas desencadeadas por personagens que fazem de tudo por alguns cliques a mais nas redes sociais. Exemplos da semana que passou mostram que, para aparecer na TV e "lacrar" na internet, vale fazer piadas que envergonhariam um mau aluno de quinta série.
Na quinta-feira, 3, quando a CPI do MST ouvia o líder da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade, José Rainha, os holofotes saíram da questão fundiária e foram para o presidente da comissão, deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS). Durante uma discussão com a colega de Casa Sâmia Bomfim (PSOL-SP), ele fez referências consideradas machistas e gordofóbicas.
"A senhora está nervosa, deputada? Quer um remédio? Ou quer um hambúrguer?", disse Zucco.
"O senhor não tem vergonha de envergonhar o Parlamento brasileiro e atacar mulheres?", questionou Talíria Petrone (PSOL-RJ).
Houve quem defendesse o deputado. "Ih, já vitimizou", ironizou o relator da CPI, Ricardo Salles (PL-SP), sobre a fala de Talíria Petrone.
Zucco se retratou e pediu que suas falas fossem retiradas das notas taquigráficas da sessão.
Ditadura
Dois dias antes, Salles havia feito uma defesa do golpe militar de 1964 na CPI, que recebia o depoimento do general Gonçalves Dias, o G. Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
O deputado começou a inquirição perguntando se G. Dias via os acontecimentos de 31 de março de 1964 como positivo ou negativo.
O general limitou-se a dizer que via o que aconteceu naquele momento nem como golpe ou revolução, mas como um "movimento". "É uma traição aos seus colegas de caserna dizer que 64 não foi uma boa medida. Não hesite em defender 64. Faça as ressalvas que tenha que fazer, mas defenda", rebateu Salles.
O golpe impôs censura prévia aos meios de comunicação, resultou no encarceramento de pessoas sem julgamento e fechou o Congresso
Na mesma sessão, os deputados Delegado Éder Mauro (PL-PA) e Messias Donato (Republicanos-ES) expuseram uma melancia para provocar G. Dias. Na mitologia das Forças Armadas, a fruta remete aos militares considerados "de esquerda" - verdes por fora e vermelhos por dentro.
'Vergonha'
Já na CPI Mista do 8 de Janeiro, o deputado Abilio Brunini (PL-MT) foi repreendido pelo presidente do colegiado, o também deputado Arthur Maia (União-BA), na terça-feira, 1º. Brunini, que não é integrante da CPMI, passou a apontar o dedo em direção ao colega de Câmara Duarte Júnior (PSB-MA), que ocupava o microfone.
Enquanto Duarte Júnior questionava Saulo Moura da Cunha, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Brunini fazia gestos com a mão para chamar a atenção das câmeras e aparecer nas imagens. Maia reagiu. Falou que Brunini "envergonha a CPI" e pediu que levasse o trabalho a sério. Duarte Júnior solicitou que o parlamentar do PL fosse retirado da audiência, o que não foi atendido pelo presidente da CPMI.
Na última sessão da comissão que investiga os atos golpistas, antes do recesso parlamentar, em 11 de julho, Brunini já havia se envolvido em outra polêmica com a deputada Erika Hilton (PSOL-SP). De acordo com o senador Rogério Carvalho (PT-SE), o deputado bolsonarista disse que Erika Hilton estaria "oferecendo serviços", o que foi confirmado pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS). Maia pediu à Polícia Legislativa que investigasse possível crime de homofobia.
Na quinta-feira, 3, também na CPMI do 8 de Janeiro, os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Duda Salabert (PDT-MG) trocaram empurrões. Foi pouco antes do início oficial da sessão, quando alguns parlamentares se reuniam para discussões finais sobre quais requerimentos seriam colocados em pauta.
O tumulto começou depois que a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) acusou Maia de favorecer interesses de bolsonaristas. Nikolas entrou na discussão e Duda afirmou que quis separar a briga.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.