Presidente Luiz Inácio Lula da SilvaJosé Cruz/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou neste domingo, dia 27, a mensagem contra o "neocolonialismo", o "protecionismo verde" e a corrida por minerais críticos, como lítio, nióbio, cobalto, terras raras e outros cruciais para a transição energética e da indústria. Na África, Lula afirmou ainda que a transição digital e ecológica devem ser aproveitadas para gerar oportunidades nos países menos desenvolvidos. A mensagem é um recado aos países europeus, que colonizaram o continente e a América Latina.

"Temos de evitar o neocolonialismo que leva a um novo ciclo de exploração predatória de minerais críticos e outros recursos naturais", disse Lula. "A transição ecológica tampouco deve servir de pretexto para novos protecionismos verdes", emendou.
Os 27 países europeus negociam com o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai o acordo comercial Mercosul-União Europeia, travado por exigências ambientais feitas por Bruxelas. Ao mesmo tempo, a União Europeia tenta desenvolver com o Brasil uma parceria estratégica para exploração de riquezas minerais.

Lula participou em São Tomé e Príncipe da cúpula da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), com foco em sustentabilidade e juventude. Ele defendeu a interligação dos mercados lusófonos e diversificação da pauta exportadora para além das commodities. Segundo o governo, a CPLP reúne 300 milhões de consumidores, em quatro continentes, e com Produto Interno Bruto de U$ 2,3 trilhões.

"Precisamos colocar as pessoas no centro das políticas públicas, criando soluções que remunerem de forma equitativa a preservação das florestas e da biodiversidade. Sem alimentação adequada não há perspectiva de uma vida digna", disse Lula.

O presidente também vinculou a expansão de novas tecnologias, como a inteligência artificial, ao aumento do desemprego e à propagação de desinformação, o que considera uma ameaça à democracia.

"As novas gerações vivem com as incertezas de um mercado de trabalho que se transforma", afirmou Lula. "As novas tecnologias são uma conquista extraordinária da inteligência humana, mas com elas o desemprego e a precarização alcançam novos patamares."

O desemprego, sobretudo entre os jovens, é um dos principais desafios das nações africanas, mesmo entre os países economicamente mais desenvolvidos, como a África do Sul. O presidente também disse que a pandemia da covid-19 ampliou desigualdades. Os países africanos até hoje reclamam internacionalmente da falta de acesso a vacinas.

O presidente voltou a dizer que vai tentar garantir trabalho digno, salário justo e proteção aos trabalhadores, na Iniciativa do Trabalho Decente, que vai lançar com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em setembro.

Vistos

O governo vai regulamentar a emissão de vistos para pesquisadores, professores, empresários, estudantes e agentes culturais dentro do acordo de mobilidade da CPLP, que facilitou o trânsito e a fixação de residências entre os nove países do grupo.

Segundo Lula, a África poderá se tornar uma potência agrícola com condições de alimentar sua própria população e restante do mundo. "O Brasil continuará a ser parceiro nessa empreitada", disse o presidente.

Ele sugeriu a promoção de um programa similar ao Mais Alimentos, que dá acesso a financiamento para compra de máquinas e tratores, por pequenos agricultores. E citou as formas de cooperação em educação, treinamentos e formação de mão de obra.

Lula encerrou neste domingo sua primeira turnê africana, durante o terceiro mandato. Ele participou da cúpula do Brics na África do Sul e fez uma visita de Estado a Angola.