Segundo a ideia original do governo de Lula, para ocupar o cargo no Executivo, o militar teria que largar a farda e ir para a reservaFoto: Divulgação
Governo Lula desiste de barrar nomeação de militar da ativa em ministério civil
Gestão petista tinha elaborado uma proposta de emenda constitucional para barrar que integrantes da ativa das Forças Armadas fossem nomeados
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desistiu da ideia de impedir que militares ocupem cargo de ministro civil na administração pública federal. A gestão petista tinha elaborado uma proposta de emenda constitucional para barrar que integrantes da ativa das Forças Armadas fossem nomeados, prática que foi generalizada no governo de Jair Bolsonaro.
Segundo a ideia original do governo de Lula, para ocupar o cargo no Executivo, o militar teria que largar a farda e ir para a reserva.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse nesta quarta-feira, 30, que a proposta de emenda que regulamenta a atuação de militares na política tratará apenas da disputa a cargos eletivos. Já a presença de militares nos comandos no Executivo ficará a cargo do presidente da República. De acordo com ele, o autor da proposta será o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que contará com o apoio da gestão Lula 3
"A PEC apresentada pelos senadores se restringe às candidaturas eleitorais", anunciou o ministro, em entrevista após reunião no Ministério da Defesa. "A proposta que os senadores vieram a fazer e tivemos concordância com isso é a iniciativa que a PEC seja restrita à questão das candidaturas às eleições, de membros das Forças Armadas que passam a disputar cargos eletivos."
O líder do governo no Senado defendeu que o cargo de ministro é político, "mas é um cargo político de convite, ninguém é ministro porque quer, é ministro porque é convidado". "A mim, me parece ser de bom tom se o presidente da República convidar o militar para o Ministério, ele vai ter que se dirigir ao ministro da Defesa para ouvir a avaliação dele sobre esse deslocamento", afirmou Jaques.
O petista afirmou que isso evita com que haja uma "discriminação" e "cerceamento" de uma vontade do presidente da República. Segundo ele, como a decisão de compor algum ministério não é um "ato voluntário", o militar não pode ser responsabilizado. "A preocupação fundamental é com o processo eleitoral", acrescentou.
O líder disse que a proposta deve ser apresentada na semana seguinte ao 7 de setembro e já deve ter as assinaturas necessárias. De acordo com o ministro da Defesa, José Múcio, a PEC está pacificada dentro das Forças.
Após a invasão do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal em 8 de janeiro, Lula iniciou um processo que chamou de "despolitização" das Forças Armadas. Até o comandante do Exército foi trocado.
Quando Lula assumiu o Planalto, havia 6.157 oficiais em cargos comissionados. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi o presidente que mais nomeou militares no primeiro escalão, mesmo na comparação com governos da ditadura.
Militares candidatos
O líder do governo no Senado disse que a proposta de emenda à Constituição (PEC) que trata da participação de militares como candidatos deve passar a valer apenas nas eleições presidenciais de 2026.
"Se alguém faz uma opção de ir à vida política eleitoral, ele automaticamente vai para a reserva. É uma escolha, não está impedido [de atuar na política]", disse o líder.
Para Wagner, a regulamentação preserva a disciplina e a hierarquia na carreira. "É uma regulamentação para facilitar a convivência de quem quer entrar na vida política", avaliou.
De acordo com ele, o texto aborda que as medidas vão valer para eleições que ocorram em um ano depois da promulgação da PEC. Portanto, na prática, a atuação da proposta nas eleições municipais de 2024 está descartada. Isso, contudo, representa uma perda ao governo, uma vez que Múcio defendia que a PEC valesse já na próxima campanha eleitoral.
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