Lula e Mark Rutte já haviam se reunido em Brasília, em maioRicardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve reunião bilateral neste domingo, 10, com Mark Rutte, primeiro-ministro dos Países Baixos, após o encerramento da 18ª Cúpula de chefes de Estado e de Governo do G20. Os líderes dos dois países trocaram impressões sobre a Cúpula realizada em Nova Delhi, na Índia, e as perspectivas para a presidência brasileira, entre 1º de dezembro de 2023 e 30 de novembro de 2024.

Mark Rutte mostrou entusiasmo com as prioridades do Brasil em seu mandato: combate à fome, pobreza e desigualdade; a transição energética e o desenvolvimento sustentável em suas três dimensões (econômica, social e ambiental), além da reforma do sistema de governança internacional.

Por sua vez, Lula apreciou o interesse dos Países Baixos em participar da Cúpula do G20 no Brasil e de auxiliar as forças-tarefa do grupo. A definição da lista de possíveis países convidados ainda está sendo trabalhada.

Na conversa, Lula também afirmou que o documento Mapa do Caminho, discutido durante visita de Rutte a Brasília em maio, deverá tornar-se marco das relações bilaterais, e que a transição energética pode ser tema fundamental da cooperação entre os dois países. Nessa área, o interesse principal são os biocombustíveis para o setor marítimo e hidrogênio de baixa emissão.

As mudanças climáticas que estão afetando o Brasil e o mundo foram outro tema da reunião. O presidente Lula frisou que esse é um problema sério. Na sessão de abertura da Cúpula do G20 realizada no sábado, 9, ele voltou a cobrar ações mais enfáticas dos países desenvolvidos para ampliar o combate global às mudanças climáticas.

Os governantes também falaram sobre o acordo em construção entre o Mercosul e a União Europeia. Sob liderança do Brasil, o Mercosul entregou, dias atrás, uma contraproposta ao documento adicional dos europeus. Lula enfatizou que quer um acordo equilibrado, que contribua para o projeto de reindustrialização do Brasil e que preserve o poder indutor que o Estado brasileiro pode exercer por meio das compras governamentais.

A relação comercial entre os dois países também foi abordada na reunião. Lula demonstrou satisfação pela escolha da Embraer para fornecer cinco aeronaves C-390 para a Força Aérea dos Países Baixos. Em 2022, a corrente de comércio entre Brasil e Países Baixos foi de 14,7 bilhões de dólares.
Parceria estratégica
O Brasil constitui tradicional e importante parceiro comercial, bem como é o destino de investimentos importantes. Os Países Baixos são o maior mercado para as exportações brasileiras na Europa, e o quarto maior no mundo, atrás apenas dos EUA, China e Argentina.

O já tradicional superávit na balança comercial bilateral aumentou significativamente em favor do Brasil em 2018, quando foram exportados cerca de US$ 13 bilhões (5,45% do total das exportações brasileiras) e importados US$ 1,6 bilhão — um saldo de US$ 11,3 bilhões, o maior das relações comerciais com parceiros europeus.

Os principais produtos exportados para os Países Baixos continuam a ser plataformas de perfuração ou de exploração de petróleo, farelo e resíduos da exportação de óleo de soja, tubos de aço, minérios de ferro e celulose. O Brasil importa principalmente combustíveis, produtos manufaturados, e ferro fundido e ferro e aço para construção. O porto de Roterdã é o mais relevante ponto de entrada de bens brasileiros na Europa.

A relevância do Brasil traduz-se também no intenso e constante fluxo de investimentos bilaterais. O estoque acumulado de investimentos holandeses no país atingiu cerca de US$ 120 bilhões. Somente em 2017, foram cerca de US$ 11 bilhões, do conjunto de 75 bilhões que se estima terem sido destinados ao Brasil naquele ano. Grandes empresas daquele país, além de instituições financeiras, têm fortes interesses no Brasil.

Registra-se também aumento da presença de empresas brasileiras nos Países Baixos. Petrobras, Embraer, Braskem, Bertin Agropecuária, Cutrale, Perdigão e Seara Foods são algumas das empresas brasileiras com investimentos na região.