Pesquisa pode contribuir no enfrentamento ao racismo na internet José Cruz/Agência Brasil
A analista de programa de Gênero e Raça do Pnud no Brasil Ismália Afonso explica que é prática deste organismo internacional ofertar assistência técnica ao Brasil como forma de contribuir para a redução das desigualdades e promoção do desenvolvimento humano - inclusivo e sustentável. "Em uma parceria com o Jus Brasil, com a Faculdade Baiana de Direito, para o Ministério da Igualdade Racial, o Pnud tenta apoiar, a partir desse diálogo, a produção de políticas públicas baseadas em evidências e, por isso, mais assertivas e com maior sucesso para garantia de direito da população negra brasileira".
Após a apresentação do relatório, a diretora de Ações Governamentais do Ministério da Igualdade Racial, Ana Mírian Carinhanha, disse que a nova pesquisa oferece ao governo federal insumos para entender as categorias das ofensas, os tipos de ameaças e, também, para saber como o poder judiciário tem lidado com as denúncias de racismo e injúria racial no segundo grau. "A pesquisa nos oferece tanto a possibilidade de aperfeiçoamento da prática do sistema de justiça, como, também, do entendimento de como esse fato social se dá a partir das opiniões das pessoas nas redes sociais. Isso nos oferece possibilidades de análise, de promoção de políticas públicas pautadas em evidências".
Análise dos dados
Sobre o perfil dos agressores é, sobretudo, entre pessoas do sexo masculino (55,56%), embora as mulheres agressoras correspondam a (40,74%). Este percentual feminino é superior ao que se costuma encontrar em pesquisas sobre outros tipos de criminalidade, conclui o levantamento. O professor da Faculdade Baiana de Direito, do Jus Brasil, e um dos coordenadores científicos do levantamento, Daniel Nicory, percebe que as ofensas racistas não mudaram. As redes sociais apenas amplificaram o racismo existente há séculos no país. "A maior surpresa é a intensidade da participação feminina. Há a vitimização feminina, mas, também a participação feminina entre as agressoras."
O advogado e professor da Faculdade Baiana de Direito, Vinícius Assumpção, que atuou também como coordenador científico do levantamento, citou a nova lei que equipara a injúria racial ao racismo e torna, desde janeiro, os dois crimes inafiançáveis e imprescritíveis. Vinícius Assumpção diz aguardar os futuros monitoramentos para saber o impacto da lei. "Com a mudança legislativa, acompanhando o percurso dessas decisões, vamos ter a possibilidade de monitorar de que maneira o judiciário vai se comportar daqui para frente, nestas questões".
Os prints, que são as capturas de tela, foram as provas dos ataques racistas ou de injúrias raciais mais frequentemente mencionadas nos acórdãos, de acordo com o levantamento. Por isso, Priscila Cardoso também sugeriu apoio tecnológico para melhorar a obtenção dessas provas. “Tem um monte de tecnologia que a gente pode implementar. Precisam dar abertura para a criação de tecnologias para que a gente consiga, realmente, capturar esses prints e que eles sejam validados no processos.”
O assessor da Secretaria de Acesso à Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Eduardo Gomor, defende que o racismo seja combatido desde as escolas, com a educação para as relações étnico-raciais, conforme previsto na legislação brasileira (leis 10.639/2003 e 11.645/2008) que tornam obrigatório o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira no currículo escolar com ênfase nas disciplinas de história, arte e literatura. "São questões que vão ajudar a gente a tentar muito, muito gradativamente, reverter esses estereótipos que ainda estão cristalizados no imaginário social", prevê Eduardo Gomor, assessor do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Integrante do Coletivo de Mulheres Negras Baobá do Distrito Federal e Entorno, a jornalista Jacira da Silva defende uma mudança comportamental da sociedade. "Se aquele que é racista, machista e homofóbico assume, isso, é ter humildade. Admitir: eu sou, mas vou deixar de reproduzir frases racistas". A ativista ainda citou outros atores no combate ao racismo. "Sonho que os nossos meios de comunicação pensem, reflitam, não reproduzam expressões racistas e todas as outras que são de cunho discriminatório. Na área governamental, via políticas públicas, que não se reproduza o racismo introjetado no imaginário da sociedade brasileira", reforçou a militante.
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