Desde a criação do Estado de Israel, em 1948, após o genocídio sofrido pelos judeus na Segunda Guerra Mundial, criou-se um conflito territorial entre israelenses e palestinos, muitos destes migrando e se refugiando dos confrontos entre as duas nações. De acordo com um levantamento da Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal), cerca de 60 mil imigrantes e refugiados palestinos, incluindo os descendentes, vivem no país.
É o caso da jornalista palestino-brasileira Soraya Misleh, coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino, que é filha de um sobrevivente da Nakba – palavra árabe que se refere ao êxodo de palestinos de áreas que se tornariam Israel.
O pai dela tinha 13 anos quando deixou a aldeia em que vivia, junto com cerca de 800 mil palestinos expulsos de suas terras.
“O meu pai é um que foi refugiado e passou a vida inteira sonhando com o retorno, como tantos outros. São seis milhões em campos de refugiados, mais milhares na diáspora. Ele faleceu há cinco meses, com 88 anos, e ele dizia o seguinte: ‘Filha, se eu pisar na minha terra e morrer, eu morro feliz’”, contou.
Ela lamenta que o pai não tenha conseguido voltar à Palestina. “Nem o direito de pisar na terra dele e morrer feliz, ele teve. Isso é parte da tragédia palestina que continua até hoje, então o que nós estamos pedindo é socorro”, disse.
Expulsão
De acordo com o professor de Direito Internacional da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), João Amorim, a expulsão contínua dos palestinos de seu território começou antes mesmo da criação do Estado de Israel, já com a formação de algumas milícias judaicas na época, de resistência inclusive ao mandato britânico da Palestina. Com a Nakba, o processo foi agravado e houve uma grande migração forçada.
“Imagine você sendo forçado a largar a sua casa agora, com a roupa do seu corpo, e fugir para outro país a pé, ou de carro, com o pouco que você tem. A sensação do desterro é algo que nunca vai abandonar o refugiado. Ele foi forçado a sair do lugar da história dele, dos afetos dele, o prejuízo é imenso. Ele não queria estar onde está e na condição que está”, disse Amorim à Agência Brasil, ressaltando que o Israel tem projeto de expulsar por completo árabes e palestinos da região.
Soraya considera que o povo palestino resiste, há 75 anos, a uma colonização “brutal” e uma “limpeza étnica”. “Enquanto falo com você, mais uma família palestina está sendo dizimada. Gaza, em que vivem 2,4 milhões de palestinos sob cerco desumano há 15 anos e uma crise humanitária dramática, já tinha enfrentado outros bombardeios massivos e frequentemente vinha sendo alvo do que chamamos de bombardeios ‘a conta-gotas’ por parte de Israel, por algumas horas ou um dia, sem que o mundo se desse conta”, disse em relação à violência que assola a região.
Direito de defesa
O governo de Israel argumenta ter o direito e dever de se defender dos ataques, como o iniciado no dia 7 de outubro, por uma questão de existência. Os israelenses alegam que o grupo Hamas, que controla a Faixa de Gaza há mais de uma década, quer destruir o país, que tem obrigação de proteger seus cidadãos.
Israel alega que o ataque citado deixou mais de 1.400 mortos e 200 pessoas foram feitas reféns pelo grupo. Já o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas, afirma que os bombardeios israelenses causaram a morte de pelo menos 8.306 palestinos.
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